Haver do mar

Tens créditos a permitir a vida
assim como nós a conhecemos
Surgimos de ti e em seu âmago
no seu avanço e recuo ao luar
Há de ser ainda o sincero olhar
dos seres humanos vindouros
a tudo e a todos vai a observar
És assim agitado e vezes calmo
O suficiente para nos permitir
Estar viver sentir bem-estar
sem, contudo, submergir
Ainda que sigas a nos oferecer
suas ondas calmas ou bravias
Vem de ti em sinuosidades a vida

504 Carmesim

Anoiteceu e veio frio mais intenso
Horizonte vibra em carmesim
Se dela foi a partida logo assim
Não a encontro sequer em sonho
E ainda a sinto em pulsar presente
Vai pela noite fria todo desencanto 
Esperando para que ela se ausente

503 Vibrações

Impessoal. Julio Silva, 2021.

Algumas vezes o que vemos das pessoas
são somente vibrações…
Nós nos aproximamos
ou nos afastamos em razão delas.
Se por um lado o ambiente físico
nela está espelhado, por outro
os incêndios interiores refletem nos semblantes.
Há um todo e eu amo essa integridade
de infinitas incompletudes
pois assim é o ser humano.
Está além das perspectivas do ver e tocar,
está longe do que se apresenta em suas atitudes,
e está no plano das possibilidades
o potencial inato em ser humano.
Sejamos para breve, humanos.

502 Algum lugar

Em que iguais não sejam só ausências
ou semelhantes sejam coincidências
O sentir seja real na falta das pessoas
a partir das experiências e colheitas

O resultado tal assim é dos desiguais
e de solidão preenchido na existência
Ao final quem haveria de se importar
se ao todo não se observa único amar
Eis que é apenas um ser na ignorância
de uma vida qualquer em tantas iguais

Em que a condição humana observada
leve aos semelhantes mais confiança
Em si mesmo assim como nos outros
haverá o sol de brilhar em esperança
Mas por enquanto é apenas lembrada
por habitar em comum nossos sonhos

Em algum lugar e ninguém se importa
com essa pintura ou com o escrito 
pura inutilidade e tempo perdido

Cr 041 Um bom texto

O pão fresco sobre o fogão esfriava; o vapor subia da sua massa agora afofada e na sua pujança esplendoroso sabor pela casa. O cheiro aguçava os sentidos e preparava para o paladar. Contudo... o fermento. Ele, o tal necessário para seu crescimento, expansão da generosa farinha de trigo, estava ali deixando-o lindo e estufado.
Seu recheio de calabresa e muçarela, acrescido de orégano, criava expectativas sobre o seu sabor. Mas.. não, seria para amanhã. De um dia para o outro, o sabor acentuado e sem predominância do fermento. Escolhas.
Pela manhã, um pouco menor, apreciado foi com um café fresco. Saborosíssimo e já em seu tamanho acomodado. 
Que a alegria no reencontro matinal siga em harmonia, e que haja concordância em discordar. Se lhe vai fresco e estufado, ainda quente, ou frio e saboroso na manhã seguinte, seja sempre motivo de sorrisos.
Ao escrever, as ideias fluem e juntam-se, em profusão de pensamentos muitas vezes ausentes de sua necessária decantação. Os excessos, tais como o fermento no inchaço do pão, são retirados, amortecidos… o texto revisado, é assim, tal como o pão amanhecido. Pode ser degustado em seu real sabor, excluido os seus excessos.

501 Saudável distância

O silêncio nem sempre é ausência
de argumentos para se responder
Às vezes é fazer por dia um tijolo
para a segura construção do muro
em que se possa tranquilo viver
Em que se pese a saudável distância

Por estar cansado de pontes construir
a lógica do passar do tempo é o ruir
Das relações, das pessoas e tudo mais
seja lá como for os dias passam iguais
Em que se pese a saudável distância

Pela memória e sentidos ainda seguem
as palavras que foram pronunciadas
“Nós dois juntos não dá certo!”
“Concordo!”
Tudo pela vida tem algum custo
Em que se pese a saudável distância

Saudades
Em saudável distância…

Arte 321 Ponto de vista

Algumas composições
me surpreendem nos seus acasos
do resultado final em emoções.
Do esboço a quase dois anos
a esses dias com as finalizações…
Assim a vida nos reserva mudanças,
quase imperceptíveis no cotidiano.

Haver do mar

Tens créditos a permitir a vida assim como nós a conhecemos Surgimos de ti e em seu âmago no seu avanço e recuo ao luar Há de ser ainda o si...