Cr 025 - Contagioso, não leia!

Encontro-me convalescendo de um mania, tal como uma síndrome de difícil cura... Auto-diagnóstico psicológico? Um amigo muito próximo diz que não devo consultar um psicólogo; provavelmente eu o atormentaria e, dado a profissão dele, o transformaria num profissional frustrado pelo insucesso na minha cura. Talvez! Porém, lá vai; vamos logo ao que interessa...
Ternas lembranças dos idos de oitenta e cinco; naquela ocasião, eu estava perto dos meus dezoito anos. Dentre as diferentes agremiações políticas-partidárias, percebi uma que estava alinhada – grosso modo – com as minhas concepções. Vou tentar repensá-las, revendo àqueles pensamentos com os fatos que passaram-se desde então.
- Que a agremiação ou partido respeitasse a Democracia, enquanto um regime político necessário para a convivência entre pessoas de diferentes interesses; ainda que a mesma, muitas vezes, não respalde o direito das minorias.
- Onde a conjugação de forças do partido não implicassem em usar do desconhecimento das pessoas comuns para finalidades próprias dos seus líderes ou atendesse a interesses escusos;
- Tivessem ideais claros o bastante e, não em entrelinhas, vinculados à defesa dos interesses das pessoas comuns e desfavorecidas, estimulando-as a construirem uma vida melhor para si mesmas;
Na ocasião simpatizei-me com o projeto do PT, o qual julgava benéfico para o Pais. Depois disso, observando a administração levada ao cabo pela ex-Prefeita Erundina em São Paulo, do discurso à prática pouco foi realizado e, apesar de pequenos avanços nas áreas socias, todas as administrações públicas em que o PT esteve presente foram marcadas por denúncias e escândalos, tais quais foram as das demais agremiações partidárias. Caido na vala comum, ainda assim elegeu-se Lula nosso Presidente, maior exponte político produzido pelo PT; A política econômica do governo anterior foi mantida em fundamentos idênticos e produziu seus frutos, destarte ao partido no poder. Ou seja, o que temos, então, de acréscimo pelo PT no Governo Federal? A prática do mensalão (vide emendas ao orçamento que viabilizaram a reeleição do FHC), repete uma prática comum na esfera do Executivo; seja ele Municipal ou Estadual. Existiriam excessões? Ainda não as encontrei! E isso independe de qual seja o partido do mandatário do executivo. Pode ser que haja! Mas, a imprensa – ávida em noticiar o que julgam necessário –, nos tem informado de inúmeras circunstânscias que envolvem os mais diversos partidos. Essa questão, portanto, está além do próprio PT.
Antes que eu colocasse as minhas esperanças sobre o PT definitivamente no lixo, perguntei-me qual seria a linha filosófica que produziu o PT. Não a encontrei... Já em 1985 era um “saco de gatos” marcado pelo oportunismo, no qual era difícil distinguir ou separar o joio do trigo. Isso ainda não me foi o suficiente para renunciar a predileção pelo PT. Era preciso mais do que isso! Masoquismo? Falta de amor próprio? Talvez! Esperei pelo desempenho do Lula como algo que pudesse criar uma nova imagem em minha mente. Eu o vi defender a falta de instrução como algo benéfico para a sociedade. Eu o vi dizer que não sabia de nada, enquanto as denúncias puLuLam na mídia... Eu o ví fazer, o que diariamente ainda vemos, na TV e demais mídias, e inclusive, apoiar o desrespeito aos Contratos, notadamente ao que a Bolívia nos impôs. Se for uma tendência quebrar contratos, qual será o destino da nação? Um regime totalitário “liderado” pelo atual Chefe do Executivo? Afinal, para existir Democracia numa sociedade é preciso que Contratos sejam respeitados, principalmente que o “Contrato Social” seja respeitado!
Enfim, os sonhos que tive na minha juventude, ligados a essa questão política-partidária, foram tragados pela ferocidade com a qual o PT avançou sobre o Erário Público via ação dos quarenta mensaleiros, renan´s calheiros e similares.
O último resquício de hombridade que poderia haver – aos meus olhos e também aos de grande parte do público –, desapareceu no Congresso, onde deixaram de cassar a maioria dos comprovadamente envolvidos com o mensalão; ainda agora, via 'aceitação' da denúncia pelo S.T.F, não podemos supor que haverá de fato condenação. Afinal, réu é apenas suspeito perante o Judiciário. Se foi preciso quase um ano apenas para qualificá-los como réus, quanto tempo será preciso para condená-los?
Gostaria de propor aos interessados, a título de colaboração, minucioso exame da maneira pela qual nos representamos junto à administração pública. Elegemos pessoas, as investimos pelo voto nos cargos públicos, e elas sentem-se desobrigadas em relação à sociedade. Penso que não desejam e tampouco irão espontaneamente prestar contas. Seria preciso rever a forma como a dita “classe política” surge e mantêm-se no Poder, de qualquer partido seja ela proveniente.
Ao sentirmos as dificuldades ampliarem em razão do mau uso do dinheiro público, precisamos lembrar que a tal 'classe política' foi eleita. Aparentemente, tal segmento da nossa sociedade representa interesses diferentes daqueles que podemos observar entre as pessoas comuns; nos restam instrumentos importantes: o Voto e a Conscientização!
PT SAUDAÇÕES

Cr 021 - Por onde podemos começar

"Onde quer que nos encontremos no momento presente, esse é o local para entrarmos em ação, com ardente senso de compromisso, paixão e esperança" (Daisaku Ikeda)
Quando observo o desejo dos jovens partirem deste local, há um luto sobre os olhares que se lançam ao futuro da nossa cidade. A cada dia ouço mais vozes somarem-se ao contingente das pessoas que visualizam partir, em futuro próximo, face à dificuldade em conseguirem formação profissional e emprego no município, seja pelo sucessivo desempenho atabalhoado das administrações públicas ou pelo constante decréscimo dos investimentos privados, é fato que a constante redução do volume de pessoas empregadas tem "expulsado" uma multidão e encontramos, atualmente, um grande número de "Iguapenses" vivendo "noutras bandas". Na Advocacia, na área Econômica, na Engenharia e em outras profissões, as pessoas mostram seu brilho; se podem vencer lá, porque não aqui mesmo?
Passam ao largo da nossa cidade as políticas de geração de renda geridas por instâncias governamentais; elas contemplam o surgimento e manutenção das micro e pequenas empresas (muitas delas de cunho familiar), porém, a pobreza está aqui manifesta e muitas pessoas sustentam-se através de programas de assistência social, tal como Bolsa Família e correlatos. Empregos para que as pessoas possam dignamente manter a si mesmas e a própria família, são cada vez mais escassos. Há como reverter esse quadro, tornando a cidade atrativa para os profissionais que já não mais a habitam, bem como contribuir para aqui mantermos os jovens, enquanto criamos um solo fértil para o crescimento de cada uma delas? Afinal, estamos falando do nosso tesouro mais precioso, a juventude iguapense! Sucessivamente, gerações e mais gerações têm abandonado Iguape, tornando-se excelentes profissionais em outras cidades. Até quando permitiremos essa "exportação de talentos"?
Alguns tópicos somente estão a baila em épocas de campanha eleitoral e servem de tema para muitos discursos inflamados; entretanto, gostaria de citá-los neste momento, visando despertar a atenção de todos, principalmente das pessoas sem interesse "político-eleitoreiro". O Turismo, em seus segmentos Ecológico e Histórico, é fonte de geração renda e emprego em muitos locais, visto que não depende de estações climáticas para atrair ao turista. Onde é implementado com seriedade e ampla participação de da sociedade, tem excelentes resultados (Parati, Serra da Canastra, p.e.). A construção civil e o extrativismo não predatório (pesca p.e.) também empregam muitas pessoas; no caso da pesca, sequer investimento municipal no setor está previsto para 2007. Em ambos os casos, se não houver qualificação profissional dos agentes envolvidos e agregação de valor ao produto primário (peixe, palmito, madeiras, p.e.) a geração de renda para as pessoas da localidade será a mínima possível. Para isso entra em pauta um tema altamente relevante: a Educação.
Tanto é necessária a básica quanto a técnica; a formação educacional profissional, em particular, contribuirá para a expansão da renda das famílias do município. Para tornar Iguape um polo irradiador de cultura e do conhecimento técnico-científico que os jovens buscam, é preciso de instituições voltadas a isso; assim, deixo aqui expresso um convite aos Vereadores: realizem os estudos necessários para requerer, junto aos órgãos competentes, a instalação de Universidade Federal em nossa cidade, bem como a ampliação dos cursos oferecidos em Iguape pelo CEETE Paula Souza ("Colégio Agrícola"). Se observarem as caracaterísticas sócio-ambientais que nos são peculiares teremos um excelente retorno para a cidade, em uma ou duas décadas.
Simples palavras? Até podemos pensar desta maneira! Mas, quero deixar essa proposta de forma ampla e irrestrita, destinadas às pessoas interessadas em melhorar nosso município. Porque não organizam-se grupos de estudos visando encontrar soluções? Com estas opiniões eu não desejo esgotar quaisquer dos temas abordados. É uma provocação à reflexão, tão somente em busca das necessárias soluções. E nisto, você que está lendo também pode contribuir.
Converse com o vereador que se elegeu com o teu voto e solicite o seus serviços; vale lembrar que ele foi eleito para atuar em benefício do município! Divulgue aos teus amigos essa proposta. Se nos juntarmos nesse desejo, tenho esperança de que poderemos reverter o quadro atual. Acredito que um novo direcionamento pode ocorrer se houver o interesse e a efetiva participação das pessoas envolvidas; da soma dos talentos individuais surgirá uma nova equação para rumos melhores. Acredito que será o desempenho das pessoas comuns, eu e você, - e não a atuação isolada das chamadas "autoridades" - que tornará nossa cidade mais próspera. Nós a escolhemos para viver e nela poderemos construir uma vida feliz, enquanto traçamos um futuro melhor para os nossos jovens!

Cr 022 - Livros e Ritmos

Ao caminhar entre os pinheiros que enfeitam a praia do Meu Recanto, empurro pela mão a bicicleta; a areia afofada naquele trecho me impossibilita de pedalar. Encosto a bicicleta junto a um pinheiro e me sento num tronco que, possivelmente, fora ali deitado nas areias à guisa de banco. Trazendo no bagageiro da bicicleta um livro, estive à procura de um local para leitura e julgo que esses pinheiros, além de servir para amenizar a intensidade do forte vento vindo do mar, proporcionam um belo local para se ler ao final da tarde. Enquanto leio, ao fundo ouço o marulhar suave das ondas vindo da praia e, de mais longe, chega aos meus ouvidos um ritmo de “Axé” das músicas que acompanham o verão nas praias de Ilha Comprida.

 Do outro lado deste oceano que está em minha frente vieram muitos povos. Os europeus que chegaram, “para fazer a América”, desde o século XVI, trouxeram em sua cultura a linguagem escrita. Por outro lado, creio que para a linguagem escrita não havia nada similar entre os povos originários da Africa que vieram para o Brasil por força da escravidão. Parece-me que a História daqueles povos, bem como os seus valores e meios de vida, eram passados de geração a geração através de fábulas e cânticos, em ritos e ritmos muito próprios. A alegria das pessoas, despertadas pela sonoridade da batucada, vistas hoje nessas e noutras praias, não nos remete aos hábitos dos ancestrais europeus. Sinto-me inclinado a acreditar que devemos aos africanos essa alegria toda que vejo ao largo dos quiosques, onde as pessoas balançam em ritmos que lembram as danças dos povos africanos.

 Lembro-me de um livro que meu filho abriu em leitura, há tempos. História bem contada, com ótima ambientação... fugiu-me o título e o nome do autor. Porém, o que me veio à mente é que até hoje ele não terminou aquela leitura e, claro, pode ser que ele não o tenha aberto novamente. Ora... As estatísticas dizem que o brasileiro pouco lê; e ele é apenas um cidadão comum, um brasileiro como outro qualquer, preferindo ao ritmo em si do que ao conceito do ritmo. A leitura que ele faz do cotidiano, penso eu, surge do ritmo, melodia e movimento, não importando qual é o significado dessa musicalidade toda, em termos literários ou culturais. Porém, e apesar de que, o ritmo do qual ele gosta (e que o faz dançar), vem de batidas de sintetizadores e é chamado de “funk”.

Nos artefatos históricos das culturas havidas aqui, antes da invasão do europeu e da migração forçada dos africanos, encontramos tambores e outros instrumentos voltados ao ritmo e melodia, o que demonstra a forte musicalidade desses povos “brasilianos”. Observando-se a ancestralidade do meu menino, em parte provinda dos “brasilianos” e dos caiçaras, é possível que sua inserção em meio aos ritmos seja por isso facilitada. Assusta-me, por fim, saber que grande parte dos conhecimentos atuais somente são transmitidos pela forma escrita e verificar, dia após dia, que aumenta o desinteresse pela leitura entre os jovens.

 A batucada do “Ilê-ayê”, vinda de um quiosque da praia, juntava-se à leitura que eu fazia de O Povo Brasileiro (Darcy Ribeiro). Aproveitei para anotar num rascunho esses parágrafos anteriores, os quais reproduzo tais como os elaborei. Assim, acrescento para concluir, após vários meses das anotações originais, poucas palavras mais, tal como segue.

 Em seguida o Sol findava nessas paragens a sua trajetória cotidiana. Majestosamente, ele nos trouxe calor para o dia todo e, naquele fim de tarde, anunciava-se uma chuva com forte tempestade; algumas gotas já caiam e era hora de sair de onde eu estava em busca de um abrigo. A chuva que logo chegaria prometia ser forte, a julgar pela escuridão vinda das nuvens. O local mais próximo que havia era de onde surgia aquele frenético ritmo de axé. Sem muitas reservas, avancei até lá e fiquei perto das pessoas que dançavam animadamente, enquanto procurava me esconder da chuva. A alegria por eles sentida era contagiante e intensa; a despeito da chuva, continuaram a dançar.

 Os meus pés e pernas, involuntariamente, procuravam se mexer como se eles tivessem vida própria. Não tive sucesso em acompanhar aqueles lindos movimentos que me enchiam os olhos e alegravam o meu coração. Faltou-me, talvez, ter um ancestral africano, brasiliano ou caiçara para herdar a facilidade em ler o ritmo.

Julio Silva

Cr 020 - De dentro do Buraco – 2

Ouvindo tímidas reclamações por entre algumas pessoas, nota-se o descontentamento em razão dos inúmeros buracos que existem nos pavimentos da nossa cidade. Eles apresentam-se nas estradas que nos levam à zona rural ou nas ruas do municípios, bem como nas calçadas; os encontramos nos mais variados tamanhos e formatos.
Alguns buracos são hoje sofisticados e surgiram no precário e recente asfalto aplicado na entrada da cidade, lá no bairro Porto do Ribeira. Nos observam como testemunhos silenciosos da baixa qualidade dos materiais e serviços aplicados nas obras públicas em nosso município.
Outros são volúveis e sujeitos a todo tipo de afetamento... Vejamos a estrada para o Jairê; se houver um intervalo de um mês entre uma e outra ocasião em que por lá passarmos, veremos que não os reconheceremos de imediato. Afinal, eles surgem num local e esperam por alguém. Quando as máquinas por lá aparecem, revolvem a terra em seu entorno e criam uma vala próxima de onde havia aquele buraco. Na próxima ocasião aos nos depararmos com eles num dia chuvoso, estarão transfigurados em pequenas lagoas, desafiando-nos com seu alargamento.
Aos passos lentos e inseguros dos idosos em nosso município, procurando desviar-se dos buracos nas calçadas, vemos os gritos das crianças em correria pelas ruas. Alguns dos pequenos levam nos dedos dos pés marcas de ferimentos por topadas recentes e outras já cicatrizadas, decorrente do piso irregular. Se há duas épocas na vida onde as pessoas necessitam de mais atenção, são a velhice e a infância. Hoje nosso município nos penaliza a todos ao oferecer péssimo piso para caminharmos e as mais prejudicadas são nossas crianças, pais e avós. Tal tratamento desrepeitoso que lhes é oferecido, ao procurarem por uma simples caminhada, demonstra o buraco em que nos metemos; não temos o devido respeito pelos idosos e tampouco cuidamos da geração futura.
Em Iguape ainda há, por uma associação de fatos e descaso público, um tipo de buraco em linha reta(!) que é comum em nossas ruas. Eles surgem após a Sabesp e ou suas empreiteiras abrirem valas e taparem-nas sem cuidados com a pavimentação, e mantém-se assim em face da ausência do poder fiscalizatório municipal. Tais buracos projetam-se numa contínua depressão onde, na parte central, há outras menores. Parece-me com a linha histórica de abandono das administrações municipais, evidenciada ao não resolver os problemas desta nossa urbe. Então, sabemos que tais buracos são contínuos e longínquos, fincados na depressão maior da linha reta do continuísmo e, a despeito de uma e outra tendência sucederem-se no governo depreciando-se, administradores(?) esmeram-se em cometer os mesmos erros dos anteriores. Em cada eleição, novas e pequenas depressões surgem ao centro, aprofundando o problema.
Tradicionais e honradas famílias Iguapenses têm seus nomes em ruas de nosso município; Acredito que a pretensão da Câmara Muncipal era homenagear àquelas pessoas. Mas, se vivos estivessem os que foram distigüidos com tal honraria, sentiriam-se envergonhados pelas péssimas condições em que as ruas se encontram. Com raras exceções, elas estão esburacadas e com pavimentação em péssimas condições; em algumas o mato cobriu boa parte do que seria o leito carroçável das vias em que não há qualquer tipo pavimentação, tal como nota-se na ruas da Popular Nova. “Carroçável” é um termo pertinente. Origina-se da palavra carroça (aquela puxada por boi, cavalo ou burro) e, em face do que temos pelas ruas, será em breve o meio de transporte mais utilizado em nosso município. Afinal, nossos carros depredam-se um pouco mais a cada dia por conta dos inúmeros buracos pelos quais trafegamos.
O ponto em que ainda há nítida diferença em relação às tradicionais carroças é que desta vez os burros (nós mesmos) ficam diante do volante, enquanto nos restam perguntas sobre onde e como a parte do IPVA destinada ao município é aplicada, assim como não se sabe da arrecadação das multas por infrações ao Trânsito em Iguape.
Há cerca de dois anos, nesta mesma Tribuna, escrevi sobre nossos buracos de outra perspectiva. Desta vez, eles parecem-me mais profundos e danosos do que já o eram. Retornei ao assunto com outra abordagem, esperançoso de que os responsáveis atuem para retirar a cidade de dentro do maior buraco que presenciamos: o do abandono.

Cr 019 - Iguape Do (Des) Amparo

Passados trinta e dois anos em que presencio nossa cidade em constante e vertiginoso declínio, preocupa-me o habitual desprezo com o qual Iguape é tratada. Assim, se exponho o problema gerado pelo constante descaso, não é para destacar-me diante de grupos ou de algumas pessoas. É com o sentimento de que possamos, afinal, ao menos esperar atitudes mais sábias e condizentes da administração pública, seja ela municipal, estadual ou ainda federal, ao tempo em que lembro o quanto nós podemos realizar algo para mudar essa realidade.
As famílias têm crescentes dificuldades econômicas para a sobrevivência e, se digo econômicas e não necessariamente financeiras, é em razão do diminuto emprego de recursos geradores de investimentos – públicos e privados –, bem como da aplicação da capacidade transformadora das pessoas em nossa cidade. Programas de auxílio, aposentadorias e outras transferências de renda do governo federal resultam em melhorias financeiras e, por vezes, mascaram a profundidade do problema que enfrentamos.
É fácil utilizar-se do caminho da desistência evidenciado pelo contínuo êxodo das famílias iguapenses. Eu poderia, por exempro, não exercer sequer o direito de escrever e dividir estas considerações com o leitor. Ou poderia, ainda, mudar para outra cidade. Isso seria uma solução? Creio que não. Daqui a mais trinta anos, olharia para Iguape e possivelmente eu a veria em condições mais precárias do que aquelas em que a deixei. Não tenho dúvidas de que essa sensação seria muito pior do que lutar até o fim para reverter esse quadro, por maiores que sejam as dificuldades.
A indolência em realizar o que é preciso, postergando decisões e adiando atitudes, tem colaborado para o atual cenário. Não dispomos mais do manejo da produção pesqueira; tal é pequeno o atual volume que é mais cômodo mandá-los in natura para os centros urbanos maiores. Houve uma preferência pelo caminho mais fácil, nessa ordem: desativaram-se instalações de processamento de pescados e com isso se desarticulou o setor. Abandonaram-se serrarias e desapareceu o processamento de madeiras em nossa cidade, em face da ausência de planos de manejo para caxeta. Deixaram à deriva a náutica e agora tampouco vemos embarcações em nosso mar de dentro, desaparecendo empregos em nosso cenário. Restaram tranqüilas águas e algumas solitárias canoas. Houve uma silenciosa renúncia das pessoas em lutar contra a tendência de declínio. Então, acredito que somente outras pessoas poderão reverter, se desejarem, esse turbilhão que arrasta a todos para um escoadouro.
Se tais condições são provindas em parte por gestões públicas inadequadas, paralisadas pelo comum equívoco entre os conceitos do que é recurso privado e público, e se houve sucessiva insipiência na admistração pública municipal, apresenta-se com uma certa lógica esse longo processo onde vemos Iguape sem cuidados; a preocupação da gestão pública seria então centrada em características privadas, cujos interesses são voltadas ao grupo que estiver ocupando o poder, tal como se os Iguapenses elegessem “donos temporários” para a cidade e não administradores.
Assim, mesmo que não haja amparo do chamado setor público, é necessário que nos levantemos; é urgente que as pessoas comuns se envolvam com as questões que nos vêm afligindo. Podemos nos capacitar para não ficarmos à margem da história, criando as condições para se buscar investimentos privados para nossa cidade, enquanto fiscalizamos a aplicação do dinheiro público em efetivo benefício de toda sociedade. Se vigiarmos o destino dos parcos recursos públicos evitaremos que sejam direcionados exclusivamente para os grupos que ocupam o poder.
Temos o direito de vencer nesse local e criarmos um futuro melhor, ao menos em nome dos nossos filhos, já que escolhemos estas paragens para viver. É tarefa simples exercer tal direito; é só cumprirmos as responsabilidades individuais e aquelas assumidas diante da sociedade. Iguape pode ser amparada ou desamparada, então, pelas pessoas que aqui se encontram.

Cr 018 - Qualidade de Vida

Na orla do Mar Pequeno, onde estávamos, pessoas caminhavam e outras corriam; Há algum tempo eu não o encontrava e é sempre muito bom rever um amigo. Enquanto o ouvia, alguns ruídos vinham da calçada; “Plaft” e em seguida um rapaz abaixava para recolher uma latinha amassada. Mais alguns plafts ele nos dizia: “Do lixo desse povo eu ganho bom dinheiro!”.

A preservação do meio ambiente – pela reciclagem de materiais – é um bom caminho para a sociedade gerar empregos, principalmente numa região tão carente de ocupações como a nossa.

Considero a arquitetura de Iguape uma das mais bonitas do nosso Estado de São Paulo; ao passar pelo centro, o prédio ocupado pelo Paço Municipal mantém boa parte das características originais. Na parede à direita da entrada da Rua Nove de Julho, haviam bonitas fotos reveladas de uma forma curiosa; nelas há impresso o contraste de imagens e a luminosidade demonstra nuances de difícil percepção. O autor, Sidney Rolland, foi muito feliz na sua realização e merecerá sempre nossos parabéns! Ainda no hall do prédio, outra exposição de fotos nos chamava a atenção, quando lá estava.
Mostravam o Aterro Sanitário de Iguape. Elas mostravam enormes valas, com máquinas e caminhões descarregando lixo. O que de fato despertou a atenção é que o lixo, acondicionado em sacos plásticos, estava caindo do caminhão para dentro das valas...

Neste dia em que escrevo, provavelmente mais nove toneladas de lixo (com seus sacos plásticos) será enterrada no “Aterro Sanitário”, deixando soterrados “presentes” para doze gerações que virão. Permanecerá enterrado por 300 anos, tempo esse necessário para decomposição do plástico. Ambientalistas asseguram que o lixo urbano é um dos maiores problemas atuais. Um carro passou com o som alto, e “Vivemos esperando dias melhores, (..) o dia em que seremos melhores em tudo..”

Ouvimos este trecho duma canção do J.Quest, enquanto o amigo tecia comentários interessantes sobre qualidade de vida. Eu gosto de ouvir os meus amigos, tal qual Daisaku Ikeda, Líder Pacifista, incentiva: “Ouça atentamente o que os outros têm a dizer. Isso o conduzirá ao desenvolvimento e o permitirá abrir as portas da alma para abrigar a verdadeira amizade. O diálogo de coração a coração é o primeiro passo para a paz.”
A felicidade em prestar atenção a um amigo encheu meu coração de alegria, e ao mesmo tempo, o ambiente que nos cercava pulsava com suas cores, formas e... Vida!

Tudo que nos cercava levou-me a questionar sobre o real significado da expressão “Qualidade de Vida”. Viver melhor implica em cuidarmos do nosso ambiente, devido ao estreito vínculo da Vida às condições do meio ambiente. Um meio, enquanto condição, implica também na convivência entre as pessoas além do próprio ambiente externo a elas. Por outro lado, foi ouvindo um amigo que pude compreender o quanto é importante procurarmos melhorar nossa qualidade de vida, em diversos aspectos. A Administração Municipal poderia ouvir os ambientalistas sobre o trato do lixo urbano, contemplando usinagem ou tratamento e separação do lixo, entre orgânico e inorgânico, destinando-os de acordo com as normas aplicáveis.

Quanto ao destino dos resíduos sólidos, o Relatório da Cetesb de 2005 identifica a cidade de Iguape como licenciada para instalar e operar Aterro Sanitário, além de classificar como “Adequado” o destino que o município aplica ao lixo urbano; Confesso que não entendi... Como a Cetesb pode julgar adequada a destinação do lixo, se os mesmos são soterrados em sacos plásticos nas valas?
Um dos problemas crônicos em nossa cidade é o desemprego; do tratamento do lixo do nosso município poderá surgir novos empregos, colaborando para efetivamente melhorar a Qualidade de Vida de muitas pessoas. Daquelas que estarão empregadas e também das futuras gerações. Não seria ótimo para nosso município se Administração Municipal ouvisse aos amigos?

Criada por Decreto – herança triste de períodos políticos autoritários – temos a partir de 30/03/06 mais 16500 hectares de Iguape como reserva ecológica, a Reserva Ecológica Banhados de Iguape; como tal medida prescinde de consulta popular ou qualquer tipo de “conversa” com a chamada “sociedade”, o Governo Estadual assim procedeu a criação da dita Reserva.

E as pessoas que aqui existem? Para se a criar uma RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável), dependemos de ampla conversa entre diversos órgãos e associações, além, é claro do trâmite pela Assembléia Legislativa. Se as RDSs constituiram-se em esperanças para as pessoas, este ato unilateral do Governo Estadual demonstra exatamente ao contrário.

Em mais uma importante área ficará inexistente a possibilidade de manejo sustentável ou qualquer tipo de uso do solo e dos seus recursos, pelas pessoas. Para ambientalistas que estejam sentados confortavelmente em seus escritórios, enquanto aguardam seus polpudos salários mensais, é lindo imaginar que 97 mil hectares fiquem preservados. E as pessoas que aqui residem? Quais são as alternativas que esses mesmos ambientalistas oferecem a elas? Para temos Qualidade de Vida precisamos também de recursos para subsistência!

Cr 017 - Iguapenses, com "I" em Maiúsculo!

O maior prazer em nossas vidas não é o aniversário em si; é quando os amigos lembram-se dele e, de alguma maneira, fazem-nos algo que deixará a data memorável. Em dada ocasião eu mesmo esqueci do meu próprio aniversário! Então, amigos lembraram-me com um lindo "Parabéns!" logo pela manhã. Foi excepcional! A data, por si só, é apenas mais uma dentre tantas outras no calendário, servindo-nos para lembrar que estamos envelhecendo...

Tratando-se do local que moramos e tanto queremos bem, é importante lembrarmo-nos de outras aspectos. Afinal, é o momento em que se comemora o tempo em que - oficialmente - gerações e mais gerações de pessoas habitam esta terra. São 467 anos e é costumeiro considerar que uma nova geração surge a cada 25 anos. Assim, nesses 467 anos teríamos algo em torno de 19 gerações de Iguapenses . Decorrendo quase metade de um milénio o início da ocupação europeia nestas paragens, a história do povo aqui formado confunde-se com a do resto do nosso País. O Brasil experimentou diversos ciclos económicos e, até 1890, a própria história de Iguape confunde-se com a do país. Experimentamos diversos momentos de ascensão económica, notadamente com atividades portuárias e de navegação fluvial. Porém, a realidade hoje nos impele o triste rótulo de região mais pobre do Estado de São Paulo.

Há dez anos o caro editor deste querido mensário Tribuna de Iguape vem publicando diversos artigos, trazendo a você - estimado leitor - aspectos históricos, culturais e do cotidiano da nossa cidade. Essa empreitada do amigo Roberto comemora, neste mês, dez anos! Parabéns a todos que colaboram para a existência da Tribuna de Iguape. Principalmente a vocês, caros leitores... Sem a dedicação com a qual lêem, criticam e opinam, com toda certeza esse artigo não seria escrito e a Tribuna de Iguape não mais existiria! Parabéns a todos! Vida longa à Tribuna de Iguape!

Iguape, idosa e gentil senhora esmerada no acolhimento dos filhos e visistantes, em comemoração ao seu aniversário mereceria um presente diferente! Como toda mãe generosa, o que ela mais gosta é de ver o êxito dos filhos. Que eles estejam morando dignamente, alimentando-se bem, vestindo-se adequadamente, e até educando-se. Pois bem... Cabe a nós, filhos adotivos e nativos deste solo que é mãe gentil, a exemplo do Brasil, observarmos com mais cuidado o destino que Iguape tomará nos próximos anos. Há muitas gerações as pessoas são "expulsas" desta nossa terra, partindo para outras cidades em busca de estudo e trabalho.

É chegada a hora de buscarmos soluções para o nosso desenvolvimento económico, proporcionando condições para que os nossos filhos e netos estudem, trabalhem e criem uma Iguape próspera. Existe alguma cidade que desenvolve-se sem que as pessoas também se desenvolvam? Não há, de forma alguma, qualquer local que progrida sem que as pessoas que nele estão também avancem! Vamos procurar soluções para os entraves, discutir, aliar-se às pessoas que desejam que o aniversário da nossa cidade não seja apenas mais uma data festiva. Passada a Festa, com seus costumeiros exageiros só haverá a ressaca...

Digo, a conta para ser paga pelo Contribuinte(todos nós), e nada houve em melhoria das condições de vida da população. O desemprego é grande, a educação precária e, consequência disto tudo, seria uma data para reflexões sobre o rumo que estamos impingindo a uma terra tão maravilhosa e que insistimos em manter na miséria atual, enquanto as pessoas a deixam. Os últimos dez anos, marcados pela existência da Tribuna de Iguape, nos servem como uma boa referência para reflexões; muitos artigos foram desenvolvidos por um grande número de pessoas interessadass em ver a nossa cidade melhor.

Está na hora de agir, convocando os Iguapenses para mostrar o seu valor neste exato local; não é preciso que eles sigam pra outro local e então, mostrando o quanto são pessoas de valor para sociedade, façam parte do sucesso que as outras cidades obtêm. Os Iguapenses, os que tiverem o "I" em maiúsculo, podem contribuir com sua força e garra para a solução dos problemas desta cidade tanto amada e tão abandonada pêlos seus... Não a abandonemos! Vamos, juntos, provar que nossa cidade é viável!

Cr 016 SobreViver

Minhas lembranças da cidade de São Paulo são curiosas. Lembro-me de um sujeito, em 94, numa passagem que tive pela Praça da Sé. Logo pensei que ele fosse um pouco perturbado! Clamava aos céus por misericórdia, anunciando o fim dos tempos e balançava no ar possivelmente uma bíblia, dizendo que ali estava escrito que tudo irá acabar em fogo, em água, que os ventos irão a tudo destruir, que a terra irá tremer e a todos soterrar. 

Muitos são os textos antigos de natureza apocalíptica e eles têm um ponto em comum: a preocupação com o incerto destino que a Humanidade, num comportamento irresponsável, vem determinando ao ambiente do planeta e, nas suas “visões”, preveem todo o tipo de destruição que a tecnologia disponível na época em que o autor da profecia existiu.

As pessoas, dispondo para suas observações apenas dos quatro elementos - terra, água, fogo e vento - em seus estados originais, deles tomaram reflexões atribuindo o Bem ou o Mal em conformidade com a perda ou ganho que as ocorrências naturais geravam em suas vidas. O conceito de "Castigo Divino" surgiu posteriormente, quando as pessoas atribuíram sentimentos humanos ao conceito de um Deus antropomórfico, tais como amor e ódio. Então, as profecias passaram também a ser “castigo ou recompensa”, de acordo com o sentimento atribuído àqueles que compartilham ou não da mesma fé do profeta.

Revi a cena presenciada em 94 na Praça da Sé, em São Paulo, e juntei a ela a imagem do Pátio do Colégio, considerado marco histórico da ocupação europeia intra-continental e início da capital paulista. Daquele momento em diante os povos imigrantes da Europa fixariam-se neste local, surgindo o que seria denominado de país Brasil e, ainda mais tarde, uma nação.

O que é hoje um brasileiro? As pessoas que habitam este território já possuem características semelhantes, dentre a diversidade cultural e étnica neste território chamado Brasil, para que os sociólogos concluam que existe, de fato, uma nação brasileira? Em todo caso, o conceito nação supõe alguma identidade cultural.

Imenso e multifacetado culturalmente é este território que habitamos; se há ou não uma nação brasileira é pergunta pertinente aos estudiosos da área. Mas, o que quero relembrar: antes da invasão dos europeus, existiam mais de duzentas nações; e, segundo historiadores, a população estimada do que é hoje o Brasil era mais de noventa milhões e, portanto, dez vezes maior do que a população de Portugal na época do início da invasão europeia a este continente.

Seguindo a tendência de extermínio dos povos, verificada entre os séculos XVI e XVIII, para os povos pré-colombianos o séculos seguintes foram marcados pela aculturação; resultou que a eles impuseram novos conceitos em religiosidade, alimentação e outros aspectos comportamentais, destruindo-se toda uma cultura pré-existente à invasão europeia.

A verdade é que não se retorna no tempo e é impossível mudar os fatos. Nada que possamos argumentar mudará qualquer evento acontecido. Há alguma chance em mudar a história que construímos neste momento; é, todavia, alento para a preservação do que é chamado de Cultural da Localidade. É mister lembrarmos que todos os atos, costumes sociais, aspectos artísticos, ou melhor: o comportamento humano, é a fonte do que é chamado “Cultural”.

Temos um vasto arsenal nuclear espalhado por muitos países, e a Juréia, aqui próximo, quase foi palco de uma usina para geração de energia atômica; do uso de material nuclear, para fins energéticos (essa era a proposta divulgada) é fácil migrar para a tecnologia de reatores que enriqueçam o Urânio, possibilitando-lhes o uso em ogivas nucleares. Ufa! Passamos perto...

E agora, quando a ação do Estado em criação de superestrutura é esgotada, a região que outrora abrigaria tecnologia de ponta, na área nuclear, não dispõe sequer de empregos no setor primário, carecendo de obras básicas de estruturação para gerar um ciclo econômico ascendente e sustentável. O bom é que se preservou o ambiente natural e, espero, as pessoas com as suas culturas locais.

Achei, num evento aleatório, um "Currículo do Atleta" (sic); nele, produto dum erro na digitação, a ano de nascimento do Atleta era o de 19991(sic). Não, não se trata de um "Currículo Pré-Datado", a exemplo da costumeira prática social atual de emissão de dívidas pré-datadas, digo, cheques pré-datados.

Daqui a 30 ou 50 anos este planeta conseguirá sustentar a vida, tal como a conhecemos? Ou não honraremos nossas contas, depredando a herança ambiental que recebemos dos nossos avós, nele incluindo a cultura, deixando um Patrimônio muitas vezes menor aos netos, apenas dezoito anos à frente? 

É necessário preservarmos, pelo menos em parte, a herança das condições de vida que os povos anteriores nos deixaram, sem lançarmos demasiados cheques pré datados de liquidação duvidosas contra o banco da vida, o ambiente em que vivemos.

Mortalmente ferido em suas fontes de criação e manutenção da vida, o Planeta Terra chora... Os profetas de plantão anunciam, face a tecnologia disponível, desastres nucleares e o surgimento de líderes insanos que colocam nações em guerra.

Os povos que habitavam, há apenas cinco séculos atrás, este querido solo iguapense viviam, presumidamente, em melhor integração com o meio ambiente, tornando possível o equilíbrio entre as espécies,

Tudo é apenas transitório e a impermanência da vida é fato inquestionável, sujeita ao ciclo do surgimento, plenitude, velhice e morte. Assim também é a vida neste planeta, tal como a conhecemos. Porém, não precisamos acelerar o ciclo!

Criando condições ruins para sustentar a vida, em suas possíveis manifestações e diversidades, podemos abreviar o ciclo e condenar à morte os seres vivos deste planeta.

Avançar num caminho onde as pessoas e seu ambiente natural sejam respeitadas em suas próprias características manterá o mundo pacífico e evitará catástrofes naturais.

Julho/2007

Cr 014 - Corrupção democrática

Ante a expressiva exposição da palavra “mensalão” na mídia, procurei entender as causas da atual crise política, contexto do qual surgiu o tal neologismo mensalão. Deparei-me de início com uma questão essencial desta problemática, nascida da legislação brasileira, a qual garante o Direito ao Voto aos maiores de dezesseis anos e, com mais alguns requisitos legais, tal como escrever o próprio nome, ser brasileiro nato ou naturalizado, basta dirigir-se ao Cartório Eleitoral mais próximo para registrar-se com Eleitor; além disso, é de caráter obrigatório. 

Tal direito, então, decorre do texto legal como imposição e nos surge naturalmente, tal como o ar que respiramos. Quanto ao ar, se alguns dos aspectos que nos permitem utilizá-lo, tendo como exemplo a sua qualidade, forem totalmente desprezados, com o tempo a poluição do ar pode nos matar. A expressão da nossa opinião pelo voto, exercida de forma irresponsável, também pode nos matar, direcionando para as mãos de corruptos os recursos públicos necessários para a Educação, Saúde e Segurança, áreas vitais para o bem estar das pessoas.

Moro numa comunidade pequena e foi fácil notar algumas práticas sociais nas últimas eleições. Pude acompanhar eleitores exercendo o seu “Direito ao voto” para um ou outro candidato conforme tenha recebido ou não favores em determinado aspecto. É uma das origens da corrupção que há tempos assola nosso país e que a mídia tem exposto diariamente. É oportuno lembrar que a sujeira já havia! Porém, só recentemente surgiram ex-mulheres e ex-secretárias dispostas a levantar os tapetes (ou mostrar cofres e falar de malas), deixando-os expostos para fotografias dos paparazzi da podridão.

Numa empresa, onde um funcionário reclame de alguma injustiça, ele estará sujeito a receber ofertas (cargo, salário, benefícios) tentadoras para “mudar de idéia”; A venda da opinião lhes atende os interesses próprios, mesmo que não seja socialmente aceitável. Muitas pessoas dizem também querer um Mensalão, em variantes do neologismo, tal como mensalinhos, etc. Elas, aparentemente, também estão dispostas a vender a sua opinião ou o exercício do seu voto. Ambos os termos, opinião e voto, já foram considerados sinônimos também na prática social – agora, o são apenas nos dicionários. Voto também possui significado de vontade. 

Na Câmara dos Deputados, desde que comprovadas as denúncias, estará demonstrado o parâmetro pelo qual o voto é exercido pelos Deputados envolvidos ou, ainda, o quanto são contraditórios suas vontades, opiniões e votos. O aspecto sofrível de todo o processo é que a Legislação que poderia puní-los é editada, em boa parte, por eles próprios e pessoas com pouca (ou nenhuma) vontade própria são igualmente condescendentes; seriam, entrementes, manifestações da mesma vileza de caráter!

Não vejo a corrupção como um fenômeno existente apenas nas “altas esferas do poder”; ocorre em todos os segmentos ou expressões da sociedade e começa na sua menor porção, a família. Será que em nossas atribuições diárias não estamos comprando a opinião de ninguém? Quando um pai dá um filho dinheiro para agradá-lo não estará corrompendo-o? Se não houve qualquer esforço ou mérito para adquirí-lo, o “Direito” a tal ganho não houve! Da mesma maneira, poderíamos nos esquecer da obrigatoriedade do voto e depois disso, procurar conquistar o Direito ao Voto, com informações suficientes sobre os candidatos e partidos. 

Se não dedicarmos para conquistarmos o Direito ao Voto, corromperemos os próprios princípios da Democracia: em seu surgimento o Voto era exclusivo dos Cidadãos; eram considerados como Cidadãos apenas os qualificados para tal. Atualmente, para exercermos adequadamente o Direito ao Voto é necessário nos qualificarmos, através das informações, conquistando desta forma a Cidadania. Dessa maneira teríamos o Direito ao Voto como uma conquista verdadeira e isenta.

Ouvi um eleitor afirmar, em alto e bom som “votei nele porquê foi o único que me pagou um copo de pinga!”(sic). As “luvas” pelas quais o pobre coitado trocou de partido só valeram um copo de pinga; outras, mais sofisticadas e lá no Planalto, chegam a milhões de reais... É a Corrupção impregnada na vida de todas pessoas, tornando-a verdadeiramente Democrática.

Cr 013 - Iguape. Cidade Histórica, Princesa do Litoral, Meu Local!

– Qual é o teu local? Tô bravo com essa cidade! – Ora, este meu local é maravilhoso! Encontrei nele as dificuldades necessárias para o meu aprimoramento como ser humano. E se há carências, é porque ainda não fiz a minha parte... – Mas, não vê que aqui ninguém ajuda a ninguém? Só querem saber dos próprios problemas! – Espera, vai com calma! Vejamos juntos o que acontece. Vou te contar uma historinha, que li há tempos atrás, e que peço desculpas se a versão não for tão exata quanto eu a li: “Na entrada de um vilarejo, na sombra de uma frondosa árvore, havia um senhor idoso. Ele estava acompanhado do seu neto e observava as pessoas que por lá passavam. O sol estava forte naquela tarde quente e um rapaz, todo suado e aparentando muito cansaço, chegava procurando por uma sombra. Logo que acomodou-se, esse rapaz perguntou ao idoso: – O senhor poderia dizer-me que tipo de pessoas há nesta cidade? Eu venho de um local em que as pessoas são muito invejosas, mentirosas, mesquinhas... Por isso resolvi ir embora, procurar outro local para viver! O idoso olhou nos olhos do rapaz e respondeu: – Encontrarás, meu caro, toda esta gente tal e qual, igualzinha a que deixaste, aí no vilarejo. São de mesma natureza! O rapaz levantou-se e, resignado, seguiu para a vila. Já pensava em deixar o local no dia seguinte. Algum tempo depois outro viajante chegava. E este vinha cantarolando, entremeando a cantiga com assovios de uma música popular, enquanto cumprimentava a todos que encontrava pelo caminho: – Boa tarde, gentil senhor! Divides estas sombra comigo, não é mesmo? Afinal, esta árvore parece uma dádiva neste dia quente! O ancião abriu um amplo sorriso e disse-lhe: – Sabes apreciar um bom fim de tarde? Sente-se e aproveite. Após algum descanso o viajante recém chegado perguntou: – Deixei minha terra e estou muito triste com isto. As pessoas que lá ficaram são muito amistosas, solidárias, gentís, e têm um coração muito puro. São todos Amigos, com A maiúsculo! Quando lembro disto fico com saudade... O idoso voltou-se a ele e, olhando-o nos olhos, disse: – Encontrarás, meu caro, toda esta gente tal e qual, igualzinha a que deixaste, no vilarejo. São de mesma natureza! Em seguida o viajante seguiu para a vila e logo pensou em estabelecer-se naquele local. O neto do idoso, assustado com as respostas idênticas, perguntou ao avô o porquê disto; de que maneira perguntas diferentes tiveram a mesma resposta? E o avô comentou: – O nosso verdadeiro local está no coração, ou melhor: no sentimento que nutrimos por ele. Se o coração for puro, a terra será pura. Não há dois locais, um bom e outro ruim. Aos seres humanos cabe identificar as cores do mundo... Alguns querem ver tudo em cinza e outros conseguem ver cada nuance, com suas variadas matizes, em todas as cores possíveis. Vemos o mundo com os nossos olhos e é assim... cada um de nós o vê com o próprio coração!” – Por que esperar que alguém nos auxilie? Disporemos da força proporcional à própria coragem de levantar-se contra as dificuldades! Se a coragem for pouca, a força também o será! – Levantarei-me diante de cada obstáculo, porque já foi dito que “só se escala uma montanha porque ela está lá”; e do meu próprio interior posso extrair a coragem necessária para jamais desanimar. E se as pessoas não auxiliam em tão nobre objetivo, é apenas porque ainda não entenderam o seu real significado! Vamos conversar com mais pessoas... – Fico feliz em perceber que este diálogo foi estimulante. Logo nos veremos novamente! Até a próxima oportunidade!

Cr 12 - A última vírgula

A Pontuação, enquanto parte das regras da boa gramática, nos traz algumas surpresas, surgindo a impressão de que situações não chegaram ao cabo, tal como se a vida acontecesse e, afora as vírgulas precedentes, todos os relatos dos fatos terminassem com vírgulas, como a narrativa de José Saramago, escritor de primazia ímpar no uso das pequenas pausas, mantendo a frase toda presa em suspense pelo acontecimento a seguir, durante o prazo em que as novas acontecem e, quando perguntamos ao cidadão: O que ocorreu de fato nos últimos dias? "Não vi nada, nem ouvi! Porquê? Aconteceu alguma coisa?"; brincadeira de mal gosto! e quanto a propalada possível cassação do chefe do executivo recém empossado? As vírgulas tomaram-se pares das interrogações, por conta daquelas citadas por pessoas que se opõem, ou, conforme o Dicionário Michaelis, vírgula implica em "Palavra com que se faz uma objeção ou restrição, ou um comentário malicioso": quando muito, alguns mais ousados comentavam "saiu na Internet" ou "vejam a sentença do STF" e, no entanto, ao cidadão comum, depois das vírgulas, ficaram interrogações "ipso facto": em que resultaram todos os Processos Judiciais? Eles sumiram ou mudaram de foro depois de eleito como prefeito? Tais perguntas também criaram suas vírgulas e o passado mantém em suspenso o futuro, tolhendo no presente ações que poderiam resultar em melhorias essenciais ao município, enquanto assomam-se ao nosso cotidiano vírgulas, e mais vírgulas, e a vida continua, ou melhor, acontece, no estilo do Saramago, onde atitudes ocorreram e passado algum tempo o moribundo sobrevive, pois como se apresentou à casa do doente designando-se de médico, destarte seja bom ou ruim (o que ainda não se cogitou, apesar das virgulas), e porquê muitos dos interesses são combinados num primeiro momento e todos esperam a sua fatia do queijo (outrora vitaminado e hoje minguado), e que, enfim, se repartirá pelos órgãos do agonizante, sempre precedido de uma ou mais vírgulas trazendo, ao gosto adocicado daqueles que praticam a vingança, o doce sabor do fel com que ambos — o médico e o decadente — se envenenarão, posto que bebem da mesma água; lastimoso é que, se levado ao óbito, junto a ele morrerão esperanças de que tenhamos, além das virgulas, possibilidades dum futuro melhor aos cidadãos, hoje tolhidos em suas possibilidades de formação profissional voltadas á realidade, e, quando as têm, precisam aplicá-las longe do nosso município, pois, e.g., quais seriam as atividades profissionais preponderamos em nossa Cidade? Temos, em vista curta e fácil percepção, a Construção Civil e a Pesca; considerando esta característica, que esforços foram envidados pelo poder público em propiciar a capacitação da mão-de-obra local e, por conseguinte, agregar valor à renda das famílias do moribundo Iguape? Mesmo que deixassem as vírgulas de lado, sobre a mesa dos munícipes os pratos continuam vazios e, noutras bandas, o Severino, aquele do Planalto Central, diz (sic) "estou prestando um favor ao País" quando emprega parentes sem concurso nos quadros funcionais da Câmara, o outro chefe diz nada saber e, enfim, demonstram que existem vírgulas em todas as esferas da administração pública e, para ser equânime, caro leitor deste humilde pena, termino esta crônica com uma vírgula,

Cr 010 - É Dia das Crianças!

Nota: Há momentos em que tenho incertezas quanto ao assunto sobre o qual vou escrever, porque surgiu tão somente a vontade de redigir! As palavras juntaram-se livremente e, mesmo que abstrato, meus pensamentos nelas tomaram forma e ritmo próprio. Resolvi, então, dividir este texto com os leitores tal como primeiro elaborei. Solicito a compreensão de todos, desejando uma agradável leitura!

* * * *
Os olhos dos filhos, fitando o olhar amável dos pais, transpiram cumplicidade e remetem, aos corações dos filhos, a doce e, em certos momentos, incômoda sensação de ainda ser uma criança, onde fatores tais como idade e vivência foram desconsiderados; e isso ocorre em qualquer idade e em quase todas as culturas ao redor do globo. Fato preponderante é que, ao olhar dos pais, seus filhos serão sempre crianças! Quando nascemos, se não houver o carinho e proteção dos pais, pereceremos frente às necessidades mais banais. Dependemos deles para tudo e de nada somos capazes; só iniciamos esta vida, afinal, graças aos pais! Higiene, alimentação, locomoção, abrigo, etc. Passamos pela vida desenvolvendo a capacidade em nos prover destas necessidades e, por vezes, ao final dela voltamos a ter as mesmas necessidades! Lá, já ao final da vida, não é raro inspirarmos tanto ou mais cuidados do que aquele que recebemos quando nascemos. Se observarmos o transcorrer da existência de um ser humano num ciclo de nascimento, plenitude, velhice e morte, precisamos das outras pessoas a todo instante e em todas as fases, em razão das circunstâncias mais diversas.
Existem pessoas que são adultas em seu tamanho ou idade; porém, um enorme coração da mais tenra jovialidade denuncia a criança ainda presente; outras esqueceram-se totalmente da criança que possuem em seus corações, tornando-se duras e frias consigo e com seus semelhantes. Crianças geralmente são tidas como desconhecedoras do mundo e algumas são tratadas como seres menores, no contexto de inferiores; tremenda injustiça! Observemos uma pequena lógica do coração: essas crianças não são tidas como puras em seus sentimentos? Então, se um “adulto” cultivar um coração verdadeiro e bondoso poderia tornar-se criança? É isso? Se o “tornar-se criança” implica em reagir junto aos demais com sinceridade e espontaneidade, seria adequado “infantilizarmos” todas as pessoas, principalmente aquelas que se dizem “adultos”!
Algumas crianças (Pequenas e grandes), nesta noite em que escrevo, estão solitárias enquanto seus pais dormem ao seu lado, de tão forte é o distanciamento entre seus corações; outras extremaram esse problema e distanciaram-se, também fisicamente, dos pais e vivem em pontes, abrigos e noutras condições impróprias. De toda forma, mesmo que neste momento as condições sejam difíceis, haverá sempre um débito de gratidão reciproco. Se aos filhos cabe a gratidão pela própria manifestação desta presente existência, aos pais foi dado pelos filhos uma grandiosa oportunidade em desenvolverem sua benevolência para conseguir enxergar, pelo prisma do coração, as pessoas maravilhosas que são os seus filhos.
Chegando ao mês de outubro, boa parte do Ocidente – em especial o oeste europeu e a América – comemora no dia doze o Dia da Criança. Atualmente as festividades são marcadas pelo aspecto comercialista, onde a relação incutida ao longo do tempo é a de adquirirem algum presente material para as crianças, relevando-se a real afetividade pelas pessoas a um segundo plano. Essencial é lembrar que o primordial está esquecido e que os olhos paternos tornam-se escuros mediante um gasto intempestivo – o sorriso ficará triste frente a uma nova dívida. E então, o que é mais valioso é esquecido! O que diriam os filhos se no dia doze recebessem presentes tais como abraços, beijos, sorrisos, conversa franca, uma caminhada juntos na praia? A mídia, e em especial a televisão, reforça a todo tempo a materialidade de qualquer oferecimento; porém, para os corações dos pais os eternos presentes são as existências dos seus filhos! Em retribuição a esse fato seria preciso que os pais agradecessem a cada dia aos filhos a oportunidade de que sejam seus pais e que os filhos enobrecessem as suas vidas com enorme gratidão aos pais pela própria existência. De toda forma, quem é filho se tornará pai; e quem é pai, também é filho de alguém. Numa saudável relação prevalece a equivalência! Há algum bom pai que seja simultaneamente mau filho?
Existe a possibilidade real, nunca abstrata, de que cada ser humano mostre ao outro o que tem de melhor dentro do seu coração; as pessoas podem presentearem-se com enormes sorrisos, numa celebração pela felicidade de viver e no seu sentido mais profundo. As pessoas, sejam pais ou filhos, podem se abraçar e oferecer, um para o outro, sorrisos sinceramente afáveis e cordiais. Podemos fazer de doze de outubro uma ocasião para a manifestação, na forma e no pensamento, do elevado estado de vida que existe latente no coração de cada um de nós!
Feliz Dia das Crianças! Feliz Dia de Todas as Pessoas! Feliz Dia do Humanismo!

Cr 009 - Madrugada Eleitoral

Enquanto aguardava pelo início de mais um dia, via a neblina dissipar-se; o sol surgia amarelando a manhã... Era o primeiro dia da campanha política. Lembro com precisão de alguns amigos que lançaram-se candidatos. Alguns movidos por interesses puramente particulares; outros, tinham de fato algum pensamento em prol as pessoas e poderiam, se eleitos, desenvolver algo útil para a sociedade em suas atividades parlamentares.
Memórias revolveram meus pensamentos. Quando criança, jogava bolinha de gude com alguns amigos e observava um homem pintando um muro. E ele seguiu caiando em branco um comprido muro, deixando-o em destaque naquela rua sem calçamento! Poucas eram as casas que tinham passeio pavimentado, e do meio da quadra até a esquina, todo o muro estava como novo. Comemorávamos esse fato! A alegria da meninada era maior e até o pega-pega era mais divertido com o muro “novo”! Passado alguns dias, pintaram dizeres dum candidato e de seu partido. A decepção foi geral! Nós questionávamos, a nosso modo, porque motivo alguém fizera aquela barbaridade! Sujar um muro que estava tão bonito... Tava como novo! E chegou alguém para sujar...
Agora, alguns anos mais tarde, estava a caminho do meu local de serviço. Um carro de sonorização, posto em volume alto, transmitia publicidade eleitoral. Atravessando uma praça, lá havia outro similar. Escutei alguns reclames bem elaborados, onde o candidato era até valorizado pela qualidade da produção; outros, sem muitos recursos, faziam alguns spots de menor qualidade. Os custos de produção, ficando a cargo dos partidos, dependem da capacidade econômica de cada candidato. E nisso há disparidades. Alguns informes ficam com alta qualidade, destacando-se dos demais e outros tornam-se peças terríveis. Mas, os jingles tocavam e em cada canto da cidade havia música, falatório e barulho de candidatos! Uma festa na qual os convivas são forçados a participar, considerando que não há como deixar do lado de fora, de nossas casas – e de nossas vidas –, o som alto dos carros de publicidade!
Pedalando, minha bicicleta amassava panfletos e seguia em meio a outras sujeiras eleitorais. Nessa época de campanha, muitos candidatos dirigem-se aos eleitores e oferecem auxílio, até mesmo em dinheiro ou pagamento de contas de água e luz. Esses mesmos candidatos, que ora tentam comprar o nosso voto, se eleitos procuram encher novamente os bolsos com dinheiro público. Aceitar o auxílio pode até ser interessante num primeiro momento; porém, dignidade não é algo que se compre; Dignidade é algo para exercitarmos diariamente, em busca do nosso auto-aprimoramento como seres humanos. Não permitamos que esses velhacos venham nos aliciar com suas propostas indecentes!
Todos estão poluindo nosso meio ambiente, de alguma forma. Nossas ruas ficam cheias de publicidade de gosto e teor duvidosos. Em qualquer parede pintam seus dizeres, numa sopa de siglas, cujo significados existem somente em discursos e que distanciam as pessoas comuns das associações de caráter político. Por todos os cantos ouve-se plágios de melodias, na qual exaltam o candidato e ferem direitos autorais dos compositores. Em nossas ruas encontramos papéis de publicidades eleitorais que entupirão bueiros numa próxima chuva.
Das funções que existem numa sociedade, a de funcionário público em cargo eletivo me parece a que desperta maior egocentrismo, porque quase todos se julgam como a “salvação da lavoura”. Estamos sempre com os mesmos tipos de problemas, na ordem: desemprego, violência, saúde, educação... Normalmente, as promessas surgem porque reclamamos. Poderíamos, desta vez, não reclamar de nada para nenhum deles. Eliminando as oportunidades que hoje eles têm de nos enganar, poderíamos votar no candidato que menos sujeira fizesse em todos os aspectos.
Uma lufada vinda de leste levantou papéis da sarjeta em minha direção. Parei para observar de qual dos pretendentes seria, e descobri que eram dos três concorrentes ao mesmo cargo! Interessante... No final, em igualdade de condições e atitudes, encontraram-se no mesmo local!

Cr 008 - Chovendo uma chuva...

Da noite chuvosa, amanheceu-se e se fez o dia compridamente feito da manhã. Chove num dia todo, destes miúdos chuviscos, prolongada da manhã pelo meio-do-dia-da-chuva; Tarde segue como a manhã, escura e fria, acordei cedo no meio duma chuva-da-manhã na tarde. E era brava, insistente. Vezes amansava... Chuvisqueiro só. Nubladinho, de fazer frio.
Onde estiveram tantas nuvens? Já sei, estavam nascendo no mar! Chegaram atrasadas e disso agora choram! Ah! Não se preocupem, podem passar com vontade. Não há problemas no seu horário. Passem, passem, sigam rumo nordeste. Lá tem carência de chuva, é sim, se tem muita. A tal da seca lá castiga; pr’aqui só precisamos de pouquinho, assim só um tantinho de chuva.
Viu seu moço? Sopre logo essas nuvens, agora que se faça mais forte, seu vento. Quê? Por causa de que não quer soprar? Seus amigos ventos sempre vêm do mar se aquecer em terra... Olhe, siga logo, teus iguais te esperam. Assim, me sopra estas nuvens faz favor, sopre um cadinho e leve embora esse chuvisco.
Êta dia molhado que de esticado fica triste, tristonho, de dormir mais que se deve... Quando sol-se-fizer, clareando mesmo que seja o fim-do-dia, já de poente perto, vou me alegrar junto com ele. Não vou reclamar, não. Fim-de-tarde claro e seco; se parar o chover, ando por aí: a espiar vento, sol, núvens e... Chuva! De novo!
Vou.. Assim: andar de pé-na-chuva e alma-n'água. Talvez essa chuva, agora forte e incansável, possa lavar os meus inteiros pensamentos: uma a uma, gota a gota, idéias todas limpas. Me ajudaria, seja um pouquinho que só, a esquecê-la; Pra algo de bom, assim, de bem-fazer-me-bem, esta água toda será grande prestativa.

Cr 007 - Fachadas, Lindas Fachadas...

Algumas situações sobrevivem apenas de fachada. Há aqueles casais que permanecem juntos, mesmo quando qualquer afeto inexiste e toda a convivência entre eles tornou-se desagradável.
Entretanto, criam um ícone em louvor à hipocrisia, sustentando uma aparente vida comum. Chegam a dizer, à familiares e pessoas próximas, que vivem muito bem, sustentando uma situação onde o que importa é tão somente a aparência.
Temos aqueles políticos bons de discursos e terrivelmente corruptos na prática da política de gastos públicos; um tempo depois levantam o tapete daquela administração e então, como num passe de mágica, um monte de sujeira ali escondida aparece.
Mas, durante sua administração, tudo mostrava-se absolutamente correto aos olhos da população.
A fachada do governante era cuidadosamente trabalhada, enquanto a corrupção proliferava e deixava rombos com enormes dívidas ao Município, além do prejuízo social da má aplicação dos recursos e do bloqueio de repasse de verbas pelo Estado, este pela não aprovação dos gastos junto ao Tribunal de Contas.
Os programas socias implementados pelo governo Federal, chamados de “Transferências de Renda”, vem anunciando gastos previstos em cinco bilhões de reais neste ano de 2004.
As causas e efeitos dos verdadeiros problemas, determinantes da pobreza que assola a população são menosprezados; como exemplo, neste Município pouco se investe em geração de emprego e renda bem como na formação técnica, enquanto seguem catalogando os menos afortunados nos “bolsas distos e bolsas daquilo”. Numa solução de fachada procuram melhorias no bem estar da população.
Em nosso Centro Histórico de Iguape, a conservação das fachadas do casario colonial chamou-me a atenção. Lembrei-me da casa de um amigo em Campo Grande.
Quando lá estive, havia uma mesa antiga de madeira e sobre ela uma cesta de vime com ovos. Que belas cascas! Mesmo finas, protegem uma vida; sem ter muito valor em si mesma, conservam as características de seu interior. Uma fachada de real utilidade. Na parede da casa, um animal empalhado parecia me olhar fixamente. Essas técnicas de taxidermia por vezes assustam! Conservaram seu aspecto externo.
Achei que a manutenção de sua fachada retratava também a crueldade com que o liquidaram, pois restaram alguns pontos escuros por onde entraram os chumbos do disparo de uma garrucha. Aquela fachada só retratava o aspecto final, ainda que deteriorado, do pobre animal morto.
Passava pela Praça São Benedito quando observei uma janela aberta. Andando pela calçada, foi inevitável espiar um pouquinho. Deparei-me com outra fachada além daquela que mostra-se ao passeio.
Curioso! Temos uma Fachada da fachada; por trás daquela há uma outra, de construção já contemporânea, contrastando com a da frente. Mantiveram um pequeno beiral do antigo telhado. Quando o olhamos temos a impressão de que a construção está preservada. Mas, é apenas a fachada!
Um verdadeiro tesouro arquitetônico está presente em nossa arquitetura, expressas em edificações datadas dos séculos XVII ao XIX. A legislação que trata da preservação do Patrimonio Histórico e Arquitetônico vem auxiliando, pois cuida da obrigatoriedade de manutenção das fachadas do Centro Histórico; até quando nos preocuparemos apenas com as fachadas?
Julio Silva, 07/2004.

Cr 006 - Rio Ribeira, do Brasil.


Um desses encantos que acontecem pela nossa percepção – e tão somente por ela – é oriundo de fatos corriqueiros. Podemos até achar, numa primeira observação, que é apenas uma situação sem graça. Mas, numa agência bancária, a fila de espera para atendimento nos reserva algo. Vamos observar. A agência fecharia às treze horas.

De onde estava, segui apressado para conseguir entrar a tempo. Lá chegando, lembrei-me de uma fotografia aérea do Rio Ribeira de Iguape. No pequeno posto de agência do Banco do Brasil, junto ao prédio da Prefeitura, a fila serpenteava e pareceu-me exatamente o desenho que faz o Rio no município de Iguape.

Olhando as variadas estaturas das vinte e seis pessoas à minha frente, imaginei que estava de ponta-cabeça. Assim, a superfície do Rio estava para baixo e o relevo do fundo era a diferença de altura das pessoas. O Rio Ribeira tem diversos pontos assoreados; imaginei então que demoraria um bom tempo na fila, é claro, em razão destes assoreamentos.

Logo atrás donde eu estava, um senhor juntou-se à fila e ele estava ligeiramente embriagado, exalando seu vapor etílico. O cheiro ruim trouxe-me à memória a poluição do Rio. Quisera não me preocupar, mas nosso Rio está a cada dia mais poluído. 

Um dos indicadores de poluição é a enorme quantidade de aguapés. Quanto maior a quantidade de matéria orgânica na água, mais eles proliferam. Há ainda a mineração clandestina que o contamina, tal como o álcool ao fígado do sujeito em questão.

As horas passaram das treze e as portas não foram fechadas. Ontem não pude entrar por poucos minutos e hoje... Nada como um dia após o outro! Quando a pequena porta foi fechada, aumentaram as curvas da aglomeração. De repente, surgiram lembranças de quando fecharam o Valo Grande e as águas do Ribeira espraiaram-se em razão do assoreamento do seu curso natural. 

Toda cheia tem suas contrapartidas – dois corpos não ocupam o mesmo lugar – o pequeno posto bancário está na cheia. A pequena vazão dada pelo único atendente parecia-se com a Barra do Ribeira, pela qual passam bem poucas das águas do rio que lhe dá o nome.

O Ribeira é um rio federal, tem sua nascente no estado do Paraná e recebe diversos afluentes até chegar ao nosso município. Forma uma das maiores bacias hidrográficas do sudeste deste país e possui imenso potencial para fornecimento de água potável. 

A tempo: menos de 2,5% das águas deste planeta é potável. O Banco do Brasil é a maior instituição bancária do nosso Brasil. Os dois servem igualmente à população de Iguape e aqui têm situações semelhantes. O município merece, há muito tempo, atenção e investimento do Governo Federal para o Rio Ribeira, bem como uma agência digna de sua população.
 
P.S. Passado alguns meses desta crônica, a agência do BB mudou para um endereço muito mais adequado e digno da nossa população.

Cr 005 - Para a minha mãe, com carinho

De uma dívida de gratidão à um benefício
Natalina Faber e Julio Silva. Dez2020.
Outro dia, numa conversa com amigos, diziam-me “A filosofia é a mãe de todas as ciências!”; a notável sabedoria popular demonstra aspectos profundos. Mãe é a origem, é o princípio das coisas e quem nos deu a vida.

Uma mãe é símbolo do eterno reinício da vida; e em cada momento da vida de um ser humano, da gestação até o seu último suspiro, o alento e o contínuo sopro da vida liga-nos ao coração de nossa Mãe.

A minha está presente em todos os momentos desta vida, desde a concepção! Centrada num enorme esforço, com carinho e dedicação, tornou possível minha vida, ultrapassando todas as dificuldades que surgiram. 

Houve momentos em que não pude morar próximo; outros em que a distância impendia até mesmo uma adequada frequência de visitas; ainda assim, esteve presente em cada alegria ou desafio da minha vida; e nessas ocasiões, veio sempre um incentivo de sua parte.

Parafraseando e emprestando um pouco da inspiração do nosso Poeta Maior, Carlos Drumond de Andrade:
“Não é preciso estar perto,
para se sentir junto;
basta estar do lado de dentro!”
Gostaria de acrescentar, 
num oferecimento pela minha Mãe:
Junto é um lugar!
E fica do lado de dentro,
neste coração,
em que a trago comigo!
Por isso digo em bom som:
Onde estive, onde cheguei
e por onde ainda andarei,
ela estará sempre Junto!

Não precisaria de um dia especial para reconhecer toda sua benevolência; desde Sol em nascente, assim do início da minha vida, tenho do meu nascimento a gratidão, pela Aurora que me proporcionou. Agora, onde ainda me aqueço no Sol Matinal, desejo fortemente honrá-la tornando-me uma pessoa valorosa. 

No decorrer desta vida, e até o meu Sol Poente, sua franqueza, determinação e dedicação às pessoas continuarão como fortes referências em meu caráter, postulados de uma vida construtiva e feliz.

É imensurável minha dívida de gratidão, manifesta na alegria que sinto pelo benefício da tua existência em minha vida. Enfim, minha querida Mãe, desejando-lhe muitas felicidades, em todos os teus dias de Mãe, muito obrigado!

Orando sinceramente pela tua felicidade, agradeço por compartilhar tua maravilhosa existência comigo! Sou imensamente feliz pela oportunidade de ser teu filho.
05/2007

Cr 004 - O Evento dos Estudantes

Sinto imensa alegria e gratidão por esta cidade de Iguape, em especial pelo acolhimento da minha família, moradora nesta desde 1974. Recebeu minha família e a proveu de instalações e professores para nossa educação, pois no ano seguinte, iniciei meus estudos no Vaz Caminha.

Sempre me orgulhei de ter lá estudado, dos amigos que surgiram naqueles quatro anos e dos quatro maravilhosos professores com os quais convivi. O nome da escola presta homenagem ao autor da suposta Primeira Carta realizada em nosso território, Pero Vaz de Caminha, e também este fato me deixa feliz.

É adorável viver num local onde possuimos raízes. Hoje vejo meus filhos estudarem em escolas onde já estudei; em cada oportunidade de lá encontrá-los, ou participar de eventos em suas escolas, compartilho das suas realizações, sentindo o ambiente em que passam boa parte dos seus dias. Fico muito grato pelas boas lembranças que as salas e os páteos me reservam.

Outro dia estava no portão da escola esperando pela minha filha. Pude ouvir uma música que as crianças ensaiavam, preparando-se para um evento na escola. Um trecho final dizia: “eu aprendi a dividir o Amor”. A música é linda, numa ode à harmonia, ao carinho e respeito entre professores e alunos. 

Fiquei muito contente, imaginando que as raízes para uma convivência respeitosa estavam se firmando em meio àquelas pessoas. As crianças buscam pelo carinho, respeito e harmonia em seus ambientes, tal como quaisquer outros seres humanos, independentemente da idade, desejando simplesmente a paz. Mesmo ao longe, pelo som das alegres vozes, percebia a interação daquelas que ensinavam com as aprendizes.

Quem resiste ao convite duma pequenina sorridente, dizendo “Pai, você trabalha amanhã de tarde? Não? Vem na Escola!”. E assim recebi um bilhetinho mimiografado: “Senhores Pais (...) comparecer (...) dia 12/03/04 às 16:30(sic), (...) sobre uniforme(...)”. 

No dia seguinte, próximo ao horário chovia o bastante para me atrasar por alguns minutos; assim, quando cheguei, estava apreensivo pelo atraso. Alguns pais espalhavam-se ao acaso e as crianças esperavam em pé, distribuidas em diversas filas por sala. 

Estavam no patéo onde lhes servem a merenda, de costas para o pequeno palco e voltadas em direção a cozinha. Todos aguardavam alguém chegar e a insatisfação era crescente.

Era passado mais de 50 minutos do horário quando finalmente um ilustre convidado apareceu. O Senhor Prefeito Cabral lá chegava. Após anunciado a presença da autoridade, iniciaram a cerimônia. Seguiram-se alguns discursos, por parte da direção da escola. 

Houve também um discurso do Senhor Prefeito, obviamente dirigido aos pais, pois a linguagem era a mais distante possível do coração das crianças. Depois, simbolicamente, entregaram uniformes e mochilas para algumas crianças. Naquele momento, elas completavam uma hora e meia que estavam em pé enfileiradas. 

No entanto, superando o mau humor, conseguiram entoar alegremente a canção ao final, porque aprenderam a “dividir o amor”. Logo após, voltaram à sala de aula, onde o restante dos kits, com mochila e uniformes, foi entregue.

É público e notório que a Municipalização do Ensino ocorre com o repasse de verbas oriundas de nossos impostos, mas, não deixemos de considerar a entrega realizada como uma adequada destinação orçamentária do Município.

 O evento demonstrou a vitória das crianças, que ultrapassaram o cansaço e bradaram com suas poderosas vozes, com rostos felizes e em alto e bom som: “eu aprendi a dividir o amor”.

Cr 003 - Sim, Quero-Quero, te quero vivo!


Um sol agradável numa tarde de agosto, na Praia do Araçá em Ilha Comprida, Litoral Sul de São Paulo. Sentei-me na areia, a espreitar ondas, nuvens, pássaros... As espumas nas águas pareciam-se com as de champanhe; o mar brindava a terra, em cada onda que chegava à costa. As águas geladas, típicas dessa época do ano, não instigavam mergulhos. Nessas ocasiões é adorável contemplar a natureza, senti-la de perto.

Quero-Queros, Gaivotas... Pássaros lindos, em seu habitat natural. Eu estava só, num raio de mais de um quilômetro. Fiquei imóvel por algum tempo, aos poucos os pássaros estavam cada vez mais próximos - não se incomodavam com a minha presença. Soprava um vento frio de sudeste enquanto o sol me aquecia. O barulho do mar ajudava-me a ter uma sensação de sonolência. Invadia-me um início de sono; meio-acordado, quase dormindo - a meio do caminho dos sonhos. Deitei-me na areia e algumas nuvens mostravam-se como um acolchoado. Olhei para o céu. Os raios do sol provocavam calor entre o meu corpo e o acolchoado das nuvens. Integrado. Essa impressão me tomou por inteiro, remetendo-me a uma experiência linda.

Um Quero-Quero piava insistentemente, enquanto corria de lá pra cá a minha frente. Não podia compreender... O que este bicho quer? Continuei imóvel, pacientemente observando. Levantei então algumas suspeitas. Será que me sentei sobre algum ninho? É, alguns pássaros destas praias tem ninhos sobre as vegetações rasteiras nestas dunas aqui próximas. Não, estou afastado das dunas. O que será? Será que tem algum alimento embaixo de onde estou? Não, estou um pouco além do trecho em que a água se espraia, e é lá que eles pegam suas presas. Aos poucos seus chilreios não formulavam mais perguntas. Tudo bem... Se ele quer ficar piando, esteja à vontade. No que me desprendi do seu barulho e de sua excitação de frenéticos zigue-zagues, aumentou aquela sensação de torpor – profunda sonolência...
— Moço, moço, moço!

Uma voz fina, lindamente aguda. De onde vem? Olhei, com aquela lentidão dos quase-adormecidos. Não vi ninguém.
— Ei, sou eu, aqui a sua frente. Olha, queria te fa...

Quando olhei para o Quero-Quero, tentando entendê-lo, apenas ouvi seu som característico. O final da frase já não compreendi. Achei que estava sonhando acordado. Fitei as nuvens e senti novamente o calor do sol...

Outra vez ouvia-o, a meu modo, no que talvez fosse o início de um diálogo, desses existentes só em nossas consciências. Entreguei-me àquele sentimento e me permiti ouvi-lo.
— Ô moço, fique quietinho assim, como estava. Com teu coração – e somente com ele – poderá me escutar. Olha, sou apenas um Quero-Quero, como assim me chamam por aqui. Existo em várias partes do mundo, em diversos formatos e tamanhos. Sou também a vida que está em você. Somos a mesma coisa, eu e você... Simplesmente somos a Vida. Somos o mar, a terra, aquela espuma... E, até aquelas dunas, também somos nós. A Vida se manifesta em todas as formas e sou apenas uma delas. Vim te falar do quanto preciso das dunas. É um pedido sim, além de uma queixa... Hoje à noite, na madrugada, aquecia meus ovos, em meu ninho nas dunas. A vegetação rasteira das dunas é excelente para mantê-los. Sabe o que aconteceu? Vieram máquinas e removeram-na, destruindo toda a minha família... Não é a primeira vez. Observou como as dunas estão diminuindo? A cada dia, mais e mais dunas desaparecem...

Ele parou um pouco, como se respirasse. Suas palavras eram rápidas, talvez em razão do desespero pela perda da família. Pareceu-me também que organizava seus pensamentos. Logo continuou:
— Vocês têm uma carta maravilhosa na ONU. Os governantes deste país ratificaram-na, tornando-a válida em seu território, não é? Gostaria de lembrá-la, para avivar tua memória. No preâmbulo da Carta da Terra, no parágrafo Terra, Nosso Lar, consta: “A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, está viva com uma comunidade de vida única. As forças da natureza fazem da existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de recuperação da comunidade da vida e o bem-estar da humanidade dependem da preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma rica variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global com seus recursos finitos é uma preocupação comum de todas as pessoas. A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado.”

Com a maré subindo, a água fria encontrou meus pés e tirou-me daquele torpor. Fiquei sem saber se dormi e sonhei com este diálogo, ou se foi minha imaginação instigada pela triste realidade da depredação. Restou-me uma pergunta e gostaria de dividir com você: o que podemos fazer pela preservação da vida silvestre em Ilha Comprida?

Cr 023 Porto de Iguape: o real e o imaginado


Na orla do canal do Mar Pequeno, próximo de onde hoje temos a Concha Acústica, vemos resquícios de um dos atracadouros do extinto e antigo Porto de Iguape. Duas baixas colunas feitas em pedra e dispostas em paralelos, recentemente restauradas, testemunham silenciosamente sua existência e seu uso em passado remoto. Tais ruínas históricas, preciosas provas históricas do porto que houve em Iguape, estão em nossa visão. Ao “desaparecimento” desse Porto de Iguape associam-se algumas causas, entre elas a diminuição da produção regional de arroz, a dificuldade que havia para se atingir o porto e o assoreamento do canal em razão da abertura do Valo Grande. O calado das embarcações aumentava e a profundidade do Mar Pequeno e de sua barra diminuía.

Circulam muitos rumores relativos à construção de um novo porto em Iguape. “Fato” comum entre eles é que tal porto atenderia ao excesso de demanda nos portos de Santos e Paranaguá. Porém, a lógica do capital é imperiosa; aporta apenas onde houver forte possibilidade de retorno financeiro. Se os custos de amortização dos investimentos e de operação, ainda que projetados, não seduzirem os investidores, tudo não passará de mera especulação. Em regiões com forte produção local ou com alto valor adicionado (refinamento de combustível e processamento de minérios, por exemplo), é natural que haja portos que são, na maioria das vezes, escoadouros daquela produção. Entretanto, sabemos o quanto é diminuta e de baixo valor comercial a produção do Vale do Ribeira. Lógico é supor que, para a operação de um porto que seja distante de zonas produtivas ou de alta rentabilização, haja fácil acesso a estradas, ferrovias e hidrovias, de tal forma compatíveis para o transporte das cargas entre as regiões produtivas e/ou consumidoras, visando atingir o porto.

Até o momento, não há qualquer manifestação formal pelos poderes públicos (em seus orçamentos) pela consecução de tal “projeto”, na parte que lhes seria de responsabilidade. Um caminho existente seria o uso de capitais exclusivamente privados; se desta natureza forem tais investimentos, por que não haveria sequer uma agência reguladora do governo ciente dos “estudos” e tampouco previsão legal, em regime de PPP - Parceira Público Privada? Poucas são as PPPs que estão “tomando forma”; e apenas porque, por enquanto, a legislação ainda é precária, pendente de regulamentação até mesmo em relação ao Governo Federal. O que dizer, então, quanto ao Estadual e Municipal?

Fator decisivo para a localização de um porto é a existência de canal com profundidade compatível com o calado dos navios que nele aportarão, além de formação geológica costeira adequada para dragagens periódicas e sucessivas. Tal manutenção, de forte impacto ambiental, acontece na maioria os portos existentes. Assim, e a mais, restrições ambientais existem e serão determinantes para tal “projeto”. O “assunto” tem sido tratado de forma sensacionalista, abordando as “vantagens” de um porto em Iguape, como se a redenção da economia local estivesse nesse “projeto”. Enfim, surgem “Salvadores da Pátria” com sabe-se lá quais interesses; o que se deduz, grosso modo, é que sejam apenas propagandas pessoais com finalidades político-eleitoreiras. Isto tem levado às pessoas mensagens equivocadas e irresponsáveis. Muitos acreditam que tal “projeto” está, efetivamente, em implantação. Neste caso, a PPP real é a aliança entre um grupo econômico com outros de “políticos”, sem ofensa aos que possam estar defendendo seriamente os reais interesses da população.

Havia uma ligação rodoviária entre os portos de Santos e Paranaguá, em projeto, nos mapas do início dos anos de 1980. Neles o traçado da BR-101 passava, após Peruíbe – partindo de onde hoje ela converge para a BR-116 – pela Juréia e Ilha Comprida, avançava por Cananéia e chegava a Paranaguá. Tal ligação entre o litoral teria facilitado o fluxo de pessoas e mercadorias. Muitas causas determinaram que tal projeto não fosse levado a efeito. Porém, entre os fatores relevantes temos a legislação que prevê total preservação da Juréia, justificada por ser aquele local um dos últimos resquícios intocados de Mata Atlântica, bem como o projeto das usinas nucleares de Iguape I e Iguape II. O Governo Federal chegou a obter financiamento e tecnologias alemãs para a construção; porém, com o fim do ciclo de governantes militares, em 1984, tanto os projetos das usinas nucleares quanto os de expansão de rodovias, tal como o trecho da BR-101 que por aqui passaria, permaneceram apenas em nossas lembranças.

Admitamos que seja real o divulgado interesse de conhecido grupo de investimentos portuários em construir um porto em Iguape, visando atender de forma complementar aos de Santos e Paranaguá. É natural supor que haja melhorias nas estradas; caso contrário, o custo de operação será demasiado alto, bem como o custo que restará para a sociedade. Na estrada Biguá-lguape, por exemplo, sequer temos acostamento pavimentado na maioria dos trechos; se for preciso parar um veículo, o desnível entre a pista e o acostamento de terra é alto e lhe provocará danos. Por outro lado, é duvidoso que ela comporte contínuo trânsito de caminhões com containers, sabidamente com altas tonelagens; com a sua deterioração, sairiam dos nossos impostos os recursos para a sua manutenção, enquanto o grupo investidor lucraria mais e mais na administração do imaginado “porto”? Ou tal grupo também realizaria investimentos e manutenção nas estradas? Quem pagará as contas, afinal?

Seguindo a moda local – sem pensar em quem pagará a conta –, aqui vai a sugestão para que haja a construção de uma ferrovia entre tais portos, a qual atenderia também a passageiros, além das cargas para o imaginado “Porto de Iguape”. Por enquanto, apenas em meus pensamentos, a ferrovia poderia nos integrar às economias mais dinâmicas de Santos e Paranaguá, tal como era previsto nos antigos mapas. A única diferença seria que, ao invés de rodovia, teríamos uma ferrovia interligando o Litoral Sul de São Paulo e o litoral norte paranaense.

No Plano Diretor do Município, recentemente promulgado, não há menção para atividade portuária. Sequer aconteceu pleito junto ao Governo Federal, em época própria, para criação de ZPE - Zona de Processamento de Exportações, onde o regime tributário foi um forte atrativo para que se instalassem pelo Brasil várias ZPEs, as quais foram “agraciadas” com inversões de capital público e privado.

A discussão nos remete a uma questão essencial para o desenvolvimento do Vale do Ribeira: até quando seremos um trecho “esquecido” do mapa do litoral brasileiro? Para tal pergunta, assusta-me que haja inúmeros boatos e raros fatos.

“Garçom? Traga a conta, por favor!” – Ao final das diversas rodadas e muito falatório, alguém terá que pedir! Ou sairemos todos em fuga?

Cr 024 - Pizza Sabor Foca (Renan's Calheiros)


Foca; esse foi o significado que encontrei para o nome “Renan”, de origem francesa e homônimo ao ilustre senador que ocupa com freqüência o noticiário. Segui na pesquisa e, para "Calheiros", houve-me a definição "aquele que trabalha com calhas".

Isso posto, passei a divagar enquanto ouvia ao noticiário. Coitadinhas das focas! Imaginariam as "Phocas Vitulinas" que seu nome popular estaria ligado à alguém que trabalha com calhas?

Perguntei-me que sentido teria uma foca trabalhar com calhas... Curioso! Normalmente vivem nas águas frias dos oceanos Atlântico e Pacífico, geralmente em grandes colônias. Sim, há uma colônia com outros seres semelhantes, onde vive aquela, lá em Brasília. Apesar de preferirem às baías de água límpida, com rochedos e areia, onde poderiam fugir da água fria, vejo que aquelas preferem às lambanças políticas.

Dentre os hábitos alimentares, sabe-se que as focas são carnívoras. Alimentam-se de peixes, moluscos e vários outros tipos de frutos do mar. Hum... Nada de bovinos, cervejas ou laranjas; Ao menos no cardápio das originais. Sabe-se que elas alimentam-se avidamente, consumindo diariamente mais de dez por cento do próprio peso... Intriga-me tal percentual!

A questão restante, era entender porquê alguma foca se interessaria em trabalhar com calhas... Fui ao Michaelis; onde pude ver que as calhas servem habitualmente para conduzir líquidos. Tal definição não colaborava em nada e, confesso, pensei em deixar essa crônica de lado. Porém, fui ao meu quintal e o meu cachorro estava urinando; Após ele levantar a perna e satisfazer-se, notei algo interessante. Do total do líquido expelido, parte correu por entre uma fenda rente ao chão, tal qual uma calha! Bingo!

Sim; renda líquida! Já deduzidas quaisquer retenções, se houverem. Ocorreu-me! Se em meio aos representantes eleitos a grana flui, tal como água... Claro! Parte do dinheiro escorreria pela calha! Daí, explica-se algo mais; Para que tantos inquéritos, apurações da autenticidade de documentos, arquivamento de processos por 'falta de provas' e ameaças de 'boicote' por seus pares? Líquida e certamente, as emendas que originam a alimentação do “foca-que-trabalha-com-calhas” e dos demais seres da colônia são inerentes ao sistema político. Aliás, na animalia as focas somente sobrevivem em colônias, ao protegerem-se mutuamente dos seus predadores.

Julio Silva ;)

Haver do mar

Tens créditos a permitir a vida assim como nós a conhecemos Surgimos de ti e em seu âmago no seu avanço e recuo ao luar Há de ser ainda o si...