Cr 020 - De dentro do Buraco – 2

Ouvindo tímidas reclamações por entre algumas pessoas, nota-se o descontentamento em razão dos inúmeros buracos que existem nos pavimentos da nossa cidade. Eles apresentam-se nas estradas que nos levam à zona rural ou nas ruas do municípios, bem como nas calçadas; os encontramos nos mais variados tamanhos e formatos.
Alguns buracos são hoje sofisticados e surgiram no precário e recente asfalto aplicado na entrada da cidade, lá no bairro Porto do Ribeira. Nos observam como testemunhos silenciosos da baixa qualidade dos materiais e serviços aplicados nas obras públicas em nosso município.
Outros são volúveis e sujeitos a todo tipo de afetamento... Vejamos a estrada para o Jairê; se houver um intervalo de um mês entre uma e outra ocasião em que por lá passarmos, veremos que não os reconheceremos de imediato. Afinal, eles surgem num local e esperam por alguém. Quando as máquinas por lá aparecem, revolvem a terra em seu entorno e criam uma vala próxima de onde havia aquele buraco. Na próxima ocasião aos nos depararmos com eles num dia chuvoso, estarão transfigurados em pequenas lagoas, desafiando-nos com seu alargamento.
Aos passos lentos e inseguros dos idosos em nosso município, procurando desviar-se dos buracos nas calçadas, vemos os gritos das crianças em correria pelas ruas. Alguns dos pequenos levam nos dedos dos pés marcas de ferimentos por topadas recentes e outras já cicatrizadas, decorrente do piso irregular. Se há duas épocas na vida onde as pessoas necessitam de mais atenção, são a velhice e a infância. Hoje nosso município nos penaliza a todos ao oferecer péssimo piso para caminharmos e as mais prejudicadas são nossas crianças, pais e avós. Tal tratamento desrepeitoso que lhes é oferecido, ao procurarem por uma simples caminhada, demonstra o buraco em que nos metemos; não temos o devido respeito pelos idosos e tampouco cuidamos da geração futura.
Em Iguape ainda há, por uma associação de fatos e descaso público, um tipo de buraco em linha reta(!) que é comum em nossas ruas. Eles surgem após a Sabesp e ou suas empreiteiras abrirem valas e taparem-nas sem cuidados com a pavimentação, e mantém-se assim em face da ausência do poder fiscalizatório municipal. Tais buracos projetam-se numa contínua depressão onde, na parte central, há outras menores. Parece-me com a linha histórica de abandono das administrações municipais, evidenciada ao não resolver os problemas desta nossa urbe. Então, sabemos que tais buracos são contínuos e longínquos, fincados na depressão maior da linha reta do continuísmo e, a despeito de uma e outra tendência sucederem-se no governo depreciando-se, administradores(?) esmeram-se em cometer os mesmos erros dos anteriores. Em cada eleição, novas e pequenas depressões surgem ao centro, aprofundando o problema.
Tradicionais e honradas famílias Iguapenses têm seus nomes em ruas de nosso município; Acredito que a pretensão da Câmara Muncipal era homenagear àquelas pessoas. Mas, se vivos estivessem os que foram distigüidos com tal honraria, sentiriam-se envergonhados pelas péssimas condições em que as ruas se encontram. Com raras exceções, elas estão esburacadas e com pavimentação em péssimas condições; em algumas o mato cobriu boa parte do que seria o leito carroçável das vias em que não há qualquer tipo pavimentação, tal como nota-se na ruas da Popular Nova. “Carroçável” é um termo pertinente. Origina-se da palavra carroça (aquela puxada por boi, cavalo ou burro) e, em face do que temos pelas ruas, será em breve o meio de transporte mais utilizado em nosso município. Afinal, nossos carros depredam-se um pouco mais a cada dia por conta dos inúmeros buracos pelos quais trafegamos.
O ponto em que ainda há nítida diferença em relação às tradicionais carroças é que desta vez os burros (nós mesmos) ficam diante do volante, enquanto nos restam perguntas sobre onde e como a parte do IPVA destinada ao município é aplicada, assim como não se sabe da arrecadação das multas por infrações ao Trânsito em Iguape.
Há cerca de dois anos, nesta mesma Tribuna, escrevi sobre nossos buracos de outra perspectiva. Desta vez, eles parecem-me mais profundos e danosos do que já o eram. Retornei ao assunto com outra abordagem, esperançoso de que os responsáveis atuem para retirar a cidade de dentro do maior buraco que presenciamos: o do abandono.

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