– Qual é o teu local? Tô bravo com essa cidade!
– Ora, este meu local é maravilhoso! Encontrei nele as dificuldades necessárias para o meu aprimoramento como ser humano. E se há carências, é porque ainda não fiz a minha parte...
– Mas, não vê que aqui ninguém ajuda a ninguém? Só querem saber dos próprios problemas!
– Espera, vai com calma! Vejamos juntos o que acontece. Vou te contar uma historinha, que li há tempos atrás, e que peço desculpas se a versão não for tão exata quanto eu a li:
“Na entrada de um vilarejo, na sombra de uma frondosa árvore, havia um senhor idoso. Ele estava acompanhado do seu neto e observava as pessoas que por lá passavam. O sol estava forte naquela tarde quente e um rapaz, todo suado e aparentando muito cansaço, chegava procurando por uma sombra. Logo que acomodou-se, esse rapaz perguntou ao idoso:
– O senhor poderia dizer-me que tipo de pessoas há nesta cidade? Eu venho de um local em que as pessoas são muito invejosas, mentirosas, mesquinhas... Por isso resolvi ir embora, procurar outro local para viver!
O idoso olhou nos olhos do rapaz e respondeu:
– Encontrarás, meu caro, toda esta gente tal e qual, igualzinha a que deixaste, aí no vilarejo. São de mesma natureza!
O rapaz levantou-se e, resignado, seguiu para a vila. Já pensava em deixar o local no dia seguinte.
Algum tempo depois outro viajante chegava. E este vinha cantarolando, entremeando a cantiga com assovios de uma música popular, enquanto cumprimentava a todos que encontrava pelo caminho:
– Boa tarde, gentil senhor! Divides estas sombra comigo, não é mesmo? Afinal, esta árvore parece uma dádiva neste dia quente!
O ancião abriu um amplo sorriso e disse-lhe:
– Sabes apreciar um bom fim de tarde? Sente-se e aproveite.
Após algum descanso o viajante recém chegado perguntou:
– Deixei minha terra e estou muito triste com isto. As pessoas que lá ficaram são muito amistosas, solidárias, gentís, e têm um coração muito puro. São todos Amigos, com A maiúsculo! Quando lembro disto fico com saudade...
O idoso voltou-se a ele e, olhando-o nos olhos, disse:
– Encontrarás, meu caro, toda esta gente tal e qual, igualzinha a que deixaste, no vilarejo. São de mesma natureza!
Em seguida o viajante seguiu para a vila e logo pensou em estabelecer-se naquele local.
O neto do idoso, assustado com as respostas idênticas, perguntou ao avô o porquê disto; de que maneira perguntas diferentes tiveram a mesma resposta? E o avô comentou:
– O nosso verdadeiro local está no coração, ou melhor: no sentimento que nutrimos por ele. Se o coração for puro, a terra será pura. Não há dois locais, um bom e outro ruim. Aos seres humanos cabe identificar as cores do mundo... Alguns querem ver tudo em cinza e outros conseguem ver cada nuance, com suas variadas matizes, em todas as cores possíveis. Vemos o mundo com os nossos olhos e é assim... cada um de nós o vê com o próprio coração!”
– Por que esperar que alguém nos auxilie? Disporemos da força proporcional à própria coragem de levantar-se contra as dificuldades! Se a coragem for pouca, a força também o será!
– Levantarei-me diante de cada obstáculo, porque já foi dito que “só se escala uma montanha porque ela está lá”; e do meu próprio interior posso extrair a coragem necessária para jamais desanimar. E se as pessoas não auxiliam em tão nobre objetivo, é apenas porque ainda não entenderam o seu real significado! Vamos conversar com mais pessoas...
– Fico feliz em perceber que este diálogo foi estimulante. Logo nos veremos novamente! Até a próxima oportunidade!
Pinturas em telas e papel, fotos e literatura do artista Julio Silva. Ideias incontidas em palavras e imagens. Original e autoral. Direitos reservados ao autor.
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