Ct 011 - Animália Brasiliana

1 - Sobre Ali Babá, Caribus e Quelônios

Terminado o pleito e atestado pelos Quelônios, os passos do Papai Noel entristeciam-se; diversas cartas ele recebera para que a floresta ganhasse de presente – ainda que no ano novo – um alcaide que estivesse a altura de suas necessidades da Selva.

Tal pedido, chegado que havia pelo sentimento de boa parte da população daquele local, não condizia com o desejo das demais, expressado pelo voto. Assim, Papai Noel não atendeu... Explica-se! Dentre aqueles votantes, visto desejarem favorecimentos que não viriam do Papai Noel e sim, esperado do dinheiro que seria confiado ao novo Alcaide, firmou-se a convicção do voto e o elegeram, a despeito das reclamações pela justiça registradas nos ofícios dos Quelônios; tais seres eram notáveis em conhecimentos e, em razão das suas características genéticas, exemplares em morosidade.

O Coelhinho da Páscoa, apesar da sua rapidez peculiar, não trouxe qualquer novidade dos ofícios dos Quelônios e, ainda mais, os seres todos daquela floresta rogaram em seis de agosto por um milagre, considerando a data do padroeiro local; outros procuravam esclarecer aos amigos e assim seguia-se o descontentamento naquela selva.

Estabeleceu-se, por fim, um periodo em que a administração da selva foi confiada a Ali Babá – ele não gostava que lhe chamassem por Ali Bigode Babado –, e ficou conhecido naquelas paragens pelos seus mais de 40 seguidores, todos ocupantes de cargos de sua confiança. A maioria deles eram parentes próximos. 

Aos Quelônios, avolumavam-se queixas sobre um tal de Nepotismo (do latim "nepos", neto ou descendente). Tal termo foi utilizado para designar o favorecimento de parentes em detrimento de pessoas mais qualificadas, no que diz respeito à nomeação ou elevação de cargos.

Havia também – elegido pelos demais seres como seus representantes para discussões sobre os rumos da selva –, o Conselho dos Caribus. Porém, corre solto pela Selva comentários sobre as as suas ações políticas e decisões tomadas em troca de favorecimentos e outros benefícios a interesses individuais.

Avalia-se que tal fenômeno acontece com frequência na Casa dos Caribus e, claro, também ocorre na casa do Alcaide Ali Babá.

Aos seres da floresta restam duas maneiras de agir, para modificar a história da selva. Depositar esperanças nos pedidos de investigação efetuado aos Quelônios. A segunda alternativa é lembrar que a Casa dos Nobres Caribus recebe os demais seres em sua platéia uma vez por semana. Porém, é preciso certo cuidado higiênico com os ouvidos; alguns Caribus tem um vocabulário precário e desacatam os demais seres com facilidade. 

Comenta-se também que eles possuem alguns neurônios a menos e que isso provoca “disenteria verbal”, fenômeno pelo qual aqueles animais expelem suas fezes através das suas palavras.

De toda forma, tal período histórico daquela selva será conhecido como o mais improdutivo e corrupto que a Selva das Águas ao Redor conheceu.

2 - A Selva ao léu

Com atitudes próprias de um déspota, Ali Babá exercitou por muitos anos a sua prepotência, sem que tivesse qualquer adjetivo com méritos reais. Rei sem coroa e sem súditos, era hábil na prática de gritar pelo seu desejo, já que não lhe bastava tê-lo para que acontecesse. "Eu sou o Alcaide!", gritava Ali Babá. "Devem-me obediência!", insistia ele. 

Levou, então, o assunto em consulta aos Quelônios, que após uma boa temporada de questionamentos - o tempo lhes é a semente da (im)perfeição - sabiamente exararam a resposta, em apensos lentamente produzidos:

"Excetuando no que segue-se, vemos com isenção que não há ilegalidade; nos é oportuno questionar alguma moralidade? Isso é algo que não nos cabe! Nós, seres do conselho da Suprema Tartaruga Feliz, deliberamos: Sê à vontade sua, caro senhor, pois nada temos de ilegal se tais prerrogativas do cargo existem."

Assim, ao chefe resultou usar e abusar de seus privilégios, ditando o rumo da Selva das Águas ao Redor, diante de gargalhadas que lhe expunham ao ridículo. Porém, tal local seguiu à descoberto, tendo dele as atitudes que remontam à monarquia. 

Entre os populares ele era visto como um ser inferior, em razão de suas vis atitudes, enquanto imaginava-se a si mesmo com galhardia. Abafados clamores dos aliados surgiram; "Sede monarca por teus atos e predicados, não o queira sê-lo apenas por tua vontade!". 

Não havendo qualquer ato que lhe indicasse nobreza, ele gritava tanto que não conseguia sequer ouvir o que lhe diziam; por fim, da vileza lançou mão com todas as suas forças e prosseguiu em seu governo sobrepujando a todos e beneficiando a poucos.

"Não imperiosos seriam os ditos seus que subjugassem pela sabedoria aqueles que se lhe opusessem", recomendavam o Conselho dos Caribus... Não! Preferiu ordenar e, em chamado aos Caribus, num de seus (des)mandos, clama à vontade "Ora, as leis... Às leis!". "Reenscrevam-nas, a minha vontade!

Afinal, só existe o Conselho dos Caribus para atender ao meu desejo! Eu não os pago mensalmente? Cumpram as minhas ordens!".

Feito esse discurso, tal atenção era dada às suas vaidades que mesmo entre os aliados pouco prestígio lhe restava. Tal era a beberragem do vinho da vaidade que os mais de quarenta aliados, relegados a segundo plano, procuravam máscaras para disfaçarem-se e terem alguma chance no pleito próximo; alguns, desejando cargos no Conselho dos Caribus, flanavam como borboletas na primavera ao saírem dos casulos. Quem sabe, mostrando-se com outra natureza, não enganariam aos seres eleitores?

Seus aliados, mesmo em quantidade menor que a inicial, ainda eram muitos e muitos ouvidos possuíam. Contavam com uma imensa língua e, se dizia, o que lhes chegava aos ouvidos saia pela boca sem ao menos passar pelo cérebro. A lenda contava que suas orelhas eram maiores que a de todos os outros seres da selva. 

Pensava-se, a princípio, que esses aliados tinham tal atributo por serem bons ouvintes. Mas, descobriu-se que não entendiam o que os demais falavam. Tais orelhas, afinal, a ciência posterior avaliou que não eram enormes: na verdade, a pequena cabeça é que nos oferecia a visão de que possuíam grandes orelhas. Restava como verdadeiro as imensas línguas e a peculiar capacidade de falar asneiras, e assim, desejavam se transformar em Caribus graças a desinteria verbal adquirida ao lado de Ali Babá.

Asseguravam-se de que, após elegerem-se Caribus – ainda segundo a lenda –, na diplomação para exercer o cargo eles perderiam as orelhas e, em troca, alguns galhos nasceriam rapidamente em suas cabeças.

O discurso dos novos pretendentes a Caribu era de que a Selva estava ao léu, com o sustento das famílias a descoberto, com o serviço de saúde em remunerado ócio, e que muitos seres estavam migrando em busca de outras selvas. Tais comentários, surgidos dos próprios aliados, deixava Ali Babá ressentido – ainda que poucos se lhe opusessem –, porque um e outro o abandonara e agora discursava como candidato ao seu posto de Alcaide.

Registraram os Quelônios: "É à vontade de Ali Babá! E de tal forma é legal!" Perpetuando a miséria ao seu entorno, àquelas imperativas determinações dele seguiram-se outras e outras. Por sorte daquela selva, os cargos ocupados pelos Caribus e Alcaides são eletivos; assim, existe uma remota possibilidade de que um dia ela deixe de estar ao léu...

3- A Suprema Tartaruga Feliz

A proposta inicial dos Quelônios era a de serem examinadores dos princípios da Justiça entre os seres da Selva. Porém, tal idéia foi desconsiderada pelo Quelônios nas práticas do cotidiano. Ao se oporem com os seus interesses particulares, àquela proposta e seus princípios foram deixados de lado. 

Obtendo vantagens próprias em escusos acordos, passam a exercitar a prática da linguagem dúbia, prevalencendo assim o interesse daqueles que melhor os remuneravam às escondidas. Dessa maneira a Justiça promovida pelos quelônios sempre prevaleceu para aqueles que tinham mais dinheiro, em detrimento aos desfavorecidos.

Dizia a lenda que entre os espécimes Quelônios, as tartarugas são as mais notáveis em sabedoria; afirmava-se que após passarem décadas em profundos estudos sobre a dualidade da linguagem, tornavam-se especialistas em ditos com sentidos e orientações duvidosas.

De uma contenda muito antiga, onde as partes não se compunham e tampouco o quelônio responsável pela lide sentia-se seguro para a prolação de uma sentença, surgiu a necessidade de criarem uma instância maior, sob a qual todos as demais representações regionais ou locais de quelônios se reportariam e, nela, caberia às partes recursarem ofícios ao não concordarem com a decisão das instâncias locais ou regionais.

Na época do surgimento de tal órgão, um antiga história de uma tartaruga muito justa, que vivera muitos séculos antes, e que era tida como equilibrada e correta em suas deciões, veio à baila; assim, decidiram por denominar ao órgão maior da justiça – que público seria – de Suprema Tartaruga Feliz.

Com polpudas verbas mensais e altíssimos ganhos em particular, diziam-se felizes também os seus membros ao realizarem todos os desejos materiais.

Para tornar-se um conselheiro da Suprema Tartaruga Feliz, tais seres iniciavam uma carreira ainda nas pequenas selvas; por entre essas eles eram transferidos de tempos em tempos, até que acumulavam pontos em razão de obediência aos alcaides locais e regionais. 

Quanto mais servis fossem, mais facilmente galgavam postos, avançando em suas carreiras; de um simples Quelônio de selva do interior poderiam se tornar Conselheiros de última instância, na mesma proporção aos favores que fizeram aos alcaides locais e aos Conselhos dos Caribus.

Originado desse comportamento ético dos quelônios, um movimento surgia de forma intensa entre os seres da Selva. Ao criarem uma prática social com o seu comportamento corrupto, sequer imaginavam que estavam fundando uma nova agremiação.

Tantos eram os defensores de tal comportamento que tornaram-se num grupo majoritário, vencendo aos demais nas disputas políticas da selva, tal era o pragmatismo adotado. Afinal, perguntavam-se, quem não gostaria de fazer parte do Partido da Situação Financeira Favorável (PSFF)? E ainda, nem mesmo havia para tal partido qualquer regulação e sequer apresentava-se como um partido registrado. A única obrigação dos que dele participavam era a satisfação de seus membros, onde para tudo havia um preço.

As relações entre os Quelônios e Caribus era cordial, para não se dizer associativa, ainda que as leis da Selva não o permitissem, bem como eram frequentes as trocas de gentileza entre o chefe administrativo – o Alcaide –, e os Quelônios e Caribus.

Cabia ao Alcaide prover financeiramente os Quelônios e Caribus em suas necessidades básicas, tudo já definido por lei. Vivendo do dinheiro dos Alcaides, os Quelônios favoreciam já em primeira instância aos mesmos.

Se houvesse denúncia de algum ser da selva que não fizesse parte do PSFF, e tal ser alardeasse como incorreto alguns atos de Alcaides, a questão era remetida à Suprema Tartaruga Feliz. Um largo tempo se passava entre o ocorrido na selva e a decisão da Suprema Tartaruga Feliz, a ponto de mudarem para outras selvas aqueles que foram denunciados ou prescrever o direito dos Quelônios de penalizar seres Alcaides e Caribus infratores às leis. Assim, pouco surtia efeito qualquer decisão da Suprema Tartaruga Feliz.

Criou-se, por fim, a lógica naquela selva de que aos Alcaides, Caribus e aos próprios Quelônios não se aplicariam as leis e que, por fim, penalizações somente haveriam aos desprovidos de dinheiro e/ou aos desinformados.

4 - O surgimento do PSFF e o PENICO

O Partido da Situação Financeira Favorável (PSFF) não tinha propriamente líderes que se declaravam como tais; era um movimento sutil e desprovido de organização, mas habitava o sentimento da maioria dos seres da selva. 

É mais fácil explicar o surgimento do que propriamente a fundação dele; não houve, por assim dizer, uma data ou movimento claro que originasse tal partido. Porém, o pensamento comum entre seus membros expressava com exatidão suas diretrizes.

"Se eu puder ganhar algum dinheiro nisso, aprovo a lei e faço com que o projeto siga; afinal, favorece a minha situação financeira!", pensavam os Caribus; E assim, afora serem servis aos Alcaides, qualquer Conselho de Caribus que se prestasse a tal seguiria a risca em atendimento a esse primeiro aspecto do PSFF. Não se aprovava projetos de leis de grupos de seres que não tivessem o PSFF como base ideológica. Assim, recebendo polpudos salários e outras verbas por emendas ao orçamento da selva ou por aprovar alguma lei de interesse do Alcaide, mantinham-se fiéis ao PSFF.

"Se eu puder ganhar algum dinheiro nisso, sanciono essa lei ou autorizo essa compra; afinal, favorece a minha situação financeira!", acreditava certo Alcaide, exemplificando sua participação no PSFF. De todos os negócios da administração da Selva alguma parte seguia para os bolsos do Alcaide, expressando a lógica do PSFF.

"Se eu puder ganhar algum dinheiro nisso, digo que está de acordo com a lei e valido tudo isso; afinal, favorece a minha situação financeira!", guardavam os Quelônios intimamente. Mesmo que não houvesse nada de formal que os obrigasse a pensar de acordo com o PSFF, eram estranhamente contrários às decisões sobre as quais não obtivessem algum retorno financeiro; de nada adiantaria algum ser vivo enviar-lhes reclamações sem a devida remuneração.

O comportamento dos Alcaides, Quelônios e Caribus eram uniformes, quando se considerava que eles todos tinham como base esse ideal havido do PSFF, surgido numa época distante e tornado prática social naquela Selva, a ponto dos seres não pensarem em qualquer outra alternativa que não fossem as oriundas desse ideal.

Reunidos em Assembléia, Caribus fizeram leis que atribuía aos seres da selva todos os direitos sem que houvesse qualquer obrigação em contrapartida. Exceção feita aos seres produtivos, os quais pagavam altos tributos, todos os demais gozavam de irrestritos direitos sem que houvesse qualquer obrigação e isso explicava-se; para melhor interargir com os demais seres, ao tempo em que os atraia para o PSFF, os Caribus criaram – a pedido dos Alcaides –, distribuição de donativos em dinheiro ou alimentos, visando angariar em retorno a confiança dos seres às diretrizes do PSFF. 

Então, os seres habitantes que tinham como diretriz de vida alimentar-se, deram-se por satisfeitos; afinal, bastava existir para que o Alcaide local lhes remetesse a renda necessária para sobreviverem. Se adoecessem, também lhes era concedido o direito à saúde; não lhes importava mais capacitarem-se para o trabalho ou aprimorarem-se em suas tarefas. Ainda que as leis garantissem o direito à educação, tudo o que pudesse desenvolver ideais contrários àqueles do PSFF era descartado ou desinteressado pelos Alcaides e Caribus, tudo validado palos atos dos Quelônios.

Quando o pleito aproximava-se, Alcaides e Caribus apressavam-se em distribuir mais favores aos seres da selva, em aprimorar e executar inúmeros convênios de transferências à população, de acordo com as regras do PSFF. Afinal, precisava ficar visível aos seres eleitores os benefícios de participarem do Partido.

Por receberem donativos ou acreditarem em promessa de favores, pertuavam na administração da selva os mesmos seres com seus votos depositados no PENICO. Tal sigla, por mais curiosa que possa parecer em nossos dias, era a abreviação de Programa Excremental Nacional Individual de Coleta Obrigatória.

Por tal programa de controle os Quelônios captavam os votos dos seres eleitores, por toda aquela selva. No PENICO reelegiam ou até mesmo elegiam alcaides e caribus diferentes; porém, todos partidários do PSFF. Podemos afirmar que o sentimento básico do partido estava presente na maioria dos seres eleitores, expressada pelos votos vencedores apurados pelo PENICO.

5 - Os Canídeos e as campanhas para votos no PENICO

Durante todo o mandato dos caribus e alcaides, aprovados por receberem a maior quantidade de votos no PENICO – Programa Excremental Nacional Ignominioso de Coleta Obrigatória –, e diplomados e/ou mantidos em seus cargos por sentenças dos Quelônios, uma espécie de seres da selva em particular era beneficiada: os Canídeos. 

Mediante a execução do orçamento da selva, parte do que os Canídeos recebiam por gastos contratados era repassada aos Alcaides e Caribus. Assim, ao aproximarem-se de novo pleito, tais seres reiniciavam o desembolso para (re)financiar as campanhas eleitorais e visavam, com isso, obter outras vantagens no próximo mandato dos Alcaides e Caribus eleitos por seu patrocínio no PENICO.

Durante os períodos das campanhas muitos seres eleitores eram convocados para ajudarem na divulgação dos futuros alcaides e caribus, e na maioria das vezes, tornavam-se importantes aliados nas futuras administrações ou nos mandatos dos caribus. As licitações eram procedimentos adotado para as compras do governo da selva e muita importância tinham por aqueles dias. 

A palavra “licitação”, em tempos remotos, teve o sentido de "haver legalidade" nas compras governamentais. Porém, no passado recente da selva o significado mais próximo era o de "tornar lícito" gastos que seriam, houvesse dos Quelônios tal intenção, facilmente demonstrados como ilegais em razão dos preços acima da realidade da selva. Porém, para cada licitação havida sabia-se até de antemão qual Canídeo ganharia. 

Dizia-se que ao operarem o erário que seria público, elevavam tais custos para obterem vantagens pessoais e que parte dos tributos recolhidos na selva seguiam, assim, do bolso de todos os seres para os bolsos particulares dos Alcaides, Caribus e Quelônios, amparados pêlos gastos havidos com os Canídeos. 

Então, de certa maneira, a importância social dos Canídeos era enorme, pois cabia-lhes redistribuir a renda da selva para que ela chegasse aos bolsos dos Alcaides, Caribus e Quelônios.

Para ganhar a simpatia de um Caribu, um Canídeo não possuia muitas preocupações; bastava lhes enviar algumas espigas de presente ou auxiliar durante a campanha no PENICO. Porém, a afinidade entre Caribus e Canídeos seguia para além do pleito. Durante um mandato de caribu, por exemplo, – tal como foi o do Presidente do Conselho Maior –, o enviado de um canídeo cuidava até mesmo de prover com fartas espigas um ser oriundo de relações extra-conjugais desse caribu.

Um projeto circulava pela casa dos caribus e dizia respeito ao financiamento das campanhas eleitorais; parte das espigas recolhidas junto à população seria doada aos candidatos à alcaides e caribus, para que eles fizessem suas divulgações junto aos eleitores. Alguns seres acreditavam que com tal medida diminuiria a importância social dos Canídeos.

 Porém, sabia-se que os Canídeos tinham em sua genética forte propensão em buscar por facilidades junto à administração pública, e que nenhum ser naquela selva ficaria de fora da lógica do PSFF. Afinal, tais ideais eram vencedores e concordantes com os demais seres da selva. 

Os seres eleitores, em sua maioria, eram facilmente comprados com alguns grãos de milho e saíam-se vencedores os candidatos que mais esmerassem na distribuição de favores; sem tal milho jogado à população não obteriam vitória no PENICO.

Muitas décadas passaram-se e o endividamento da selva cresceu. Sufocado com altos juros cobrados pêlos credores da selva, o orçamento elaborado pelos Alcaides e Caribus previa nova elevação dos tributos, tungando para tal orçamento quase quarenta espigas de cada cem produzidas pela selva; explicavam que em tais despesas haviam juros das dívidas públicas e recursos necessários para que a selva continuasse a praticar seus programas sociais de auxílio, em acordo com as metas do Partido da Situação Financeira Favorável (PSFF). 

Um certo alcaide até mesmo elegeu-se prometendo fazer uma auditoria séria sobre a origem da dívida da Selva; imaginou-se que com isso descobririam que as grandes fortunas dos alcaides, caribus e quelônios (bem como a de suas famílias), teriam se originado das espigas que públicas seriam. Por outro lado, concluindo pela ótica majoritária do PSFF, tais seres tiveram o poder de decidir o rumo da selva em suas mãos e direcionaram parte do erário público para si; nada mais natural que isso.