Considerava ter nascido para ela e em cada um dos seus pensamentos a tornava presente; relutava em aceitar o fato de que ela o deixara.
No seu caminho, restos de lixo espalhavam-se nas calçadas; era o resultado das estripulias dos cães e gatos em busca dos restos de alimentos. Entre as paredes enegrecidas pela fuligem urbana, restos de lixo e sarjetas imundas, Mário avançava a passos lentos e trôpegos rumo ao seu apartamento, vindo do bar em que bebera muito além do habitual.
Como ele próprio dizia, estava "quase bêbado". Apesar de que nunca sabia o ponto em que o "quase" não mais fazia sentido. Assim, muitas vezes estava embriagado sem o saber; Bom, isto não lhe fazia grande diferença! Afinal, entre sóbrio, "quase bêbado" e bêbado, julqava que o importante era estar entorpecido para não torturar-se com as lembranças de Filomena.
Saíra a três dias de casa para a despedida de Filomena e só agora pretendia retornar, destino que a mente desejava e coração relutava, "Pra que ir pra casa? Ela não estará a minha espera!" Nisso, esteve de bar em bar e em breves estadas nos bancos da praça do bairro, onde dormira um pouco durante o dia e recuperara-se, em parte, da embriagez; em seguida voltara aos botecos recomeçara a bebedeira, chegando ao ponto atua.
Um gato saído rapidamente de trás de montes lixos aplicou-lhe um susto enorme; A juncão do susto com o álcool em seu corpo produziu efeitos terríveis ao seu equilíbrio. Cambaleou, escorregou em sacos de lixo e caiu, batendo com lateral da cabeça numa lata de lixo; em seguida, tentando levantar-se, apoiou-se numa das mãos e suas forças faltaram.
Seu corpo, enfraquecido e tomado pelo álcool, relutava em por-se de pé. Quando conseguiu por a segunda mão para apoiar-se, a primeira escorregou; ele rolou e bateu com a parte traseira da cabeça perdendo os sentidos.
Em seus delírios inconscientes, Mário via uma nuvem escura insistindo em impedir o luar; ele forçava a vista procurando enxergar o rosto de Filó, como carinhosamente a chamava. Refletido na lua ele via o semblante dela lhe sorrindo, pedindo para que ele esteja com ela.
E ele gritava "Tô indo! Tudo o que eu desejo é estar com você! É a minha razão de viver! Você é a minha fé, a minha esperança!". Todos os seus sentimentos, que julgava raptados pelo coração dela, estavam depositados numa jura de amor obsessivo. Para ele, o mundo todo resumia-se em Filó; direcionara toda a energia da sua vida para ela...
Um taxista por ali passava e, vendo-o caído, sem sentidos e com uma poça de sangue ao entorno da cabeça, ligou para o serviço de emergência. Os médicos esforçaram-se para reanimá-lo. Porém, a dosagem alcoólica em seu corpo impedia a eficiência dos medicamentos.
Aplicaram-lhe cuidados que pudessem surtir algum efeito sedativo, enquanto aguardavam que o teor de álcool em seu sangue baixasse e eles pudessem, então, tratar do edema cerebral que formara-se em razão da queda.
Cuidaram dele com muito esmero; entretanto, os cuidados médicos não surtiram resultados. Decorrido algumas horas em estado de profundo coma, Mário encerrava sua existência dedicada à Filomena.
Após três dias do início do seu suplício, pôde reencontrar àquela para a qual consagrara a vida e que o havia deixado!
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Após três dias do início do seu suplício, pôde reencontrar àquela para a qual consagrara a vida e que o havia deixado!
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